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    Minha História

    Brasileiro escapa de deslizamento nos EUA que matou ao menos 24

    CAROLINA LINHARES
    FÁBIO ZANINI
    DE SÃO PAULO

    26/03/2014 03h00

    O pernambucano Paulo Marcos Falcão de Oliveira, 33, dirigia numa estrada do Estado americano de Washington quando um deslizamento de terra atingiu carros bem à sua frente. Causada pelas chuvas, a tragédia no último sábado deixou até agora 24 mortos, número que deve subir muito. Ele, que vive nos EUA há 13 anos e tem uma empresa de lavar carpetes, testemunhou o resgate de um bebê de 6 meses.

    *

    Infelizmente, eu estava lá na hora do acidente, por volta de 10h45 da manhã de sábado. Estava indo buscar meus filhos Diego, 6, e Zoey, 3, que moram nas montanhas, em Darrington, para passar o fim de semana comigo em Lynnwood, onde moro. A [rodovia] 530 é a estrada que eu sempre uso para buscá-los e levá-los.

    Um domingo antes, já notei que as casas tinham muita água no jardim, mas não era nada para se preocupar. O mês de março foi muito chuvoso aqui.

    Na hora, eu estava descendo uma ladeira. Os carros que estavam na minha frente foram completamente cobertos pela lama e, por 30 segundos, eu estaria ali no meio também.

    Courtesy Photo
    Paulo de Oliveira, à direita, participa de resgate de bebê de seis meses em escombros de deslizamento
    Paulo de Oliveira, à direita, participa de resgate de bebê de seis meses em escombros de deslizamento

    Vi aquela coisa negra cobrindo a rodovia. Foi de repente. Em cinco segundos, tudo havia sido arrastado.

    O meu foi o terceiro carro não atingido. Parei a uns 10 metros dos destroços.

    A primeira coisa que fiz foi colocar a mão sobre a cabeça e gritar "Ai meu Deus do céu, o que está acontecendo?".

    As pessoas nos carros da frente falaram: "Dá a volta, vamos sair daqui." Ainda caíam árvores, e a lama se movia. Mas eu tinha que ficar e ajudar, mesmo sabendo do risco de morrer.

    Editoria de arte/Folhapress

    Quatro minutos depois, o primeiro policial chegou. O cheiro de gás do sistema de aquecimento das casas atingidas era muito forte. A vila de Oso tinha 39 casas, algumas eram usadas só no verão. O policial mandou que as pessoas que estavam ali saíssem da área de destroços, mas então escutamos uma criança chorando a uns 30 ou 50 metros de distância.

    Três homens voluntários já preparados, que trabalham derrubando árvores e apareceram do nada, conseguiram achar o bebê. Eu fiquei a uns 20 metros porque não queria ser mais uma vítima.

    Eles estavam preparados, e eu estava usando sapato social. O resgate durou de dez a 25 minutos.

    O bebê foi o primeiro a ser resgatado com vida [ele está na UTI, em situação crítica]. Passou na minha frente e era carregado por um homem como um jogador segura uma bola de futebol americano [com as duas mãos, pressionado junto ao peito].

    Ajudei movendo destroços e tirando os telhados das casas para colocar no chão e facilitar a passagem das pessoas, criando uma área de acesso. Permaneci até quando o pessoal do resgate me tirou de lá, aproximadamente três horas depois.

    Senti agonia, tristeza, desespero, porque foi uma coisa horrível de se ver. Agora estou tendo consultas com psicólogos. Aquilo passa na minha cabeça toda hora, tenho pesadelos desde sábado. Os psicólogos me falaram que tive uma experiência próxima da morte.

    O pessoal aqui está muito triste, principalmente os moradores de Darrington, que querem ajudar. Mas agora as buscas serão feitas por um órgão federal, que vai mandar equipamentos pesados para procurar os desaparecidos.

    Ainda há esperança de encontrar pessoas vivas. Até escutar que não tem mais jeito, a gente acredita. A estrada vai ficar bloqueada por mais algumas semanas. Para ver meus filhos ontem [anteontem], usei outra estrada, pelas montanhas. Passei o dia com os dois, abraçado a eles.

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