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    Depois do Twitter, o governo turco bloqueia acesso ao YouTube

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    27/03/2014 12h50

    O governo turco ordenou nesta quinta-feira o bloqueio do site YouTube, uma semana depois de ter feito a mesma coisa com o Twitter, depois que gravações sobre possíveis planos de ação militar na Síria foram publicadas no site.

    O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan disse que os vazamentos no YouTube como "vis". Segundo uma fonte do governo que falou à Reuters, o site foi bloqueado como uma precaução, já que os vídeos publicados criaram um problema de "segurança nacional". A proibição, segundo a fonte, pode ser retirada se o site concordar em tira o conteúdo do ar.

    Fontes do governo alertaram ainda para a possibilidade de haver mais bloqueios a outras plataformas digitais se usuários continuarem postando conteúdo que ameaça a segurança.

    Uma conta anônima postou no YouTube o que seria uma gravação de uma conversa entre o chefe de inteligência turco, Hakan Fidan, o ministro das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, e oficiais militares.

    "Eles até vazaram uma reunião de segurança nacional. Isso é vil, isso é desonesto... Quem vocês estão servindo ao espionar uma reunião tão importante?", disse Erdogan.

    A Autoridade Turca de Telecomunicações (TIB) informou ter tomado uma "medida administrativa" contra o YouTube. O Google afirmou acompanhar relatos de usuários que não estão conseguindo acessar o site na Turquia e disse ainda que o problema não se deve a falha técnica da companhia.

    Erdogan considerou outras acusações contra o governo publicadas na internet como um plano para derrubá-lo em meio a um escândalo de corrupção envolvendo seus aliados.

    A decisão do governo veio dias antes das eleições municipais de domingo (30) que servirão para medir a popularidade do governo Erdogan.

    TWITTER

    Na quarta (26), a justiça turca ordenou ao governo o fim do bloqueio do Twitter. O governo anunciou que iria acatar a decisão judicial.

    Um tribunal administrativo de Ancara, ao qual a oposição parlamentar e várias organizações não governamentais apresentaram recursos, considerou que a medida imposta pelo governo é "contrária aos princípios do Estado de direito" e ordenou à TIB o fim do bloqueio.

    A TIB passou a bloquear a rede social –que Erdogan diz propagar as acusações de corrupção contra o governo– na semana passada.

    O principal partido opositor, o Partido Republicano do Povo (CHP), comemorou a decisão. "É impossível deixar que um regime totalitário silencie a tecnologia", disse um dos vice-presidentes do CHP, Mrehan Halici.

    Os 12 milhões de internautas turcos conseguiram em sua maioria burlar o bloqueio da rede social. A decisão, no entanto, provocou uma avalanche de críticas à "censura" imposta pelo governo islamita moderado, no poder desde 2002.

    CORRUPÇÃO

    Em um clima eleitoral tenso, a oposição acusou Erdogan de atuar como um "ditador" e de querer impedir o avanço das investigações de corrupção que afetam várias pessoas ligadas ao chefe de Governo.

    O presidente turco Abdullah Gül, utilizador assíduo das redes sociais, criticou a medida.

    "É uma situação desagradável para um país desenvolvido como a Turquia, um personagem regional de peso que está negociando com a União Europeia", disse o presidente.

    O governo turco justificou o bloqueio total do Twitter com a impossibilidade de conseguir, apesar de "centenas" de decisões da justiça, que vários sites deixassem de divulgar trechos de conversas telefônicas gravadas ilegalmente que afetam Erdogan, aliados e ministros.

    Nos últimos meses, o governo de Erdogan foi abalado por um vasto escândalo político-financeiro, que ele diz ser uma manobra do seu rival político, o pregador muçulmano Fethullah Gülen, que mora nos Estados Unidos.

    O primeiro-ministro respondeu com uma série de punições na polícia e na justiça, suspeitas de infiltração de "gulenistas", assim como com a provação de uma polêmica lei sobre o controle da internet.

    INTERVENÇÃO NA SÍRIA

    A conversa secreta publicada no YouTube parece ser sobre uma operação para proteger a tumba de Suleyman Shah, avô do fundador do Império Otomano, em uma área no norte da Síria controlada por militantes islamitas.

    A área é controlada por cerca de 20 soldados turcos desde 1921, quando Turquia e França, que governava a Síria, assinaram um acordo que classificou o local como território turco.

    A Turquia ameaçou há duas semanas retaliar qualquer ataque próximo a tumba depois de confrontos na região entre militantes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), um grupo ligado a Al-Qaeda, e rebeldes rivais.

    "Uma operação contra o EIIL tem legitimidade internacional. Nós vamos defini-lo como Al-Qaeda. Quando tem a ver com a tumba de Suleyman Shah, tem a ver com a proteção do solo nacional", uma voz apresentada como o ministro das Relações Exteriores diz na gravação.

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