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    Marcas de celular disputam a preferência de Obama e outros líderes

    DO "GUARDIAN"

    29/03/2014 03h00

    Durante anos os líderes mundiais mais poderosos usavam um BlackBerry, e nenhum outro telefone, para checar seus e-mails quando estavam longe de casa, e o BlackBerry ainda é o aparelho preferido de Barack Obama. O presidente americano usa um modelo especialmente modificado pela Agência Nacional de Segurança dos EUA.

    Mas a notícia, divulgada este mês, de que a Agência de Comunicações da Casa Branca está testando outros telefones, incluindo modelos da Samsung e LG, provocou arrepios nos fãs da empresa canadense de smartphones, que passa por dificuldades e acaba de anunciar um prejuízo anual de US$5,8 bilhões.

    Para um líder mundial, a segurança é muito mais do que simplesmente ter um código de acesso instalado no seu telefone. Significa proteger o aparelho contra tentativas de invasão por hackers amadores e profissionais e, o que é mais importante, por agências de espionagem, interessadas em saber com quem, quando, sobre o quê e onde ele anda falando e lendo. Que um governante tenha seu telefone grampeado representa o fracasso máximo de sua agência nacional de espionagem, além de uma humilhação enorme.

    O BlackBerry, como elementos adicionais, vem sendo o telefone preferido pelas agências de espionagem até agora, em termos de proteção contra invasões. Agora, porém, a Apple e a Samsung, as duas maiores fabricantes de smartphones, estão começando a bater na porta dos serviços de segurança.

    E se a BlackBerry fechar? Embora a empresa possa ter sido arrancada de sua espiral de morte, a posição do BlackBerry como telefone favorito dos altos executivos não é igualmente evidente –e a Apple vem anunciando a segurança sempre melhor de seu iPhone, que anda tomando o lugar dos telefones BlackBerry até em instituições financeiras como a Goldman Sachs, antes um reduto dos telefones que dependem do teclado. Yahoo, Pfizer e Halliburton também já deram adeus ao BlackBerry.

    À medida que os telefones rivais aprimoram sua segurança, pode ser apenas questão de tempo até o líder dos EUA usar um telefone Apple ou Samsung –talvez não durante a Presidência de Obama, mas na de seu sucessor.

    Embora o secretário de imprensa da Casa Branca tenha insistido que "o gabinete executivo do presidente não está participando de um programa piloto" para substituir o BlackBerry de Obama, talvez seja apenas uma questão de tempo –se bem que, se Obama for sucedido por Hillary Clinton, a conhecida afinidade dela pelo BlackBerry pode estender mais um pouco a sobrevivência desse smartphone.

    ALEMANHA

    O celular de Angela Merkel tornou-se o telefone mais famoso da política mundial quando, em outubro do ano passado, veio à tona que a NSA vinha monitorando as ligações da chanceler. Mas ela tem pelo menos dois telefones que usa regularmente.

    O aparelho que teria sido monitorado pelos serviços de inteligência dos EUA, um Nokia 6260 Slide, supostamente era usado apenas para questões partidárias.

    Para assuntos de Estado, Merkel usa um BlackBerry Z10 equipado com chip de encriptação da Secusmart. A empresa de Düsseldorf insiste que seu software permanece à prova de hackers e continua a divulgar seu aparelho como o "Kanzler-Handy" –o celular da chanceler.

    PHILIP OLTERMAN, em Berlim

    ESTADOS UNIDOS

    Uma das primeiras batalhas de Barack Obama quando ele chegou à Casa Branca, em 2009, foi para conservar o BlackBerry pelo qual tinha tanto apreço, a despeito das objeções de advogados do governo e do serviço secreto. "Estou segurando firme o meu BlackBerry", ele disse na época. "Vão ter que arrancar de minhas mãos."

    Desde então, o presidente americano foi autorizado a usar um telefone BlackBerry modificado, com encriptação intensificada. Apenas um punhado de altos funcionários da Casa Branca e familiares dele têm seu endereço de e-mail pessoal. Três meses atrás, Obama disse a um grupo de jovens: "Não sou autorizado a ter um iPhone, por razões de segurança".

    PAUL LEWIS, em Washington

    PAQUISTÃO

    Num país em que números de telefone incomuns são vendidos como artigos de prestígio, não surpreende que paquistaneses ricos sejam vistos levando pelo menos dois smartphones de alta categoria para onde quer que vão.

    Nawaz Sharif, primeiro-ministro pela terceira vez de um dos países mais populosos do mundo, já foi visto usando iPhones e Samsungs. Mas esses aparelhos pertencem a membros de seu cortejo que atuam como "porteiros" que regulam o acesso a seu chefe.

    O único telefone que o próprio premiê usa é um BlackBerry Bold, aparelho longe de estar na moda. Fã do serviço de mensagens da empresa, Sharif usa o aparelho para ficar em contato com sua família e aliados políticos estreitos que têm o privilégio de saber seu número.

    JON BOONE, em Islamabad

    RÚSSIA

    O presidente russo, Vladimir Putin, é famoso por dizer que não possui celular, diferentemente do primeiro-ministro, Dmitri Medvedev. Conhecido por apreciar produtos da Apple, este se tornou um dos primeiros proprietários de um iPhone 4 quando Steve Jobs, no Vale do Silício, lhe deu o telefone quando ainda não tinha sido lançado.

    Em 2006, Putin teria afirmado que tinha muitos celulares, mas que não usava nenhum deles porque não tinha tempo e preferia outros métodos de comunicação. Em 2010, porém, o presidente disse que não possuía telefone nenhum. "Se eu tivesse um celular, ficaria tocando o tempo todo."

    Mas a aversão de Putin pode estar ligada à preocupação com a segurança, incutida nele desde seus tempos de espião da KGB.

    É sabido que ele também evita a internet, preferindo em vez disso receber suas informações em relatórios comuns redigidos por suas agências de inteligência. Um documentário de televisão sobre o gabinete de Putin, feito em 2012, mostrou pastas vermelhas sobre sua mesa de trabalho –provavelmente relatórios de inteligência– e uma mesa de telefones beges antiquados.

    ALEC LUHN, em Moscou

    FRANÇA

    O presidente francês, François Hollande, não se separa de seu iPhone 5. Consta que ele mantém constante contato via mensagens de texto com sua namorada, Julie Gayet. Mas o iPhone presidencial seria para uso pessoal apenas.

    Mesmo antes das revelações de Edward Snowden sobre a espionagem de cidadãos franceses pela Agência Nacional de Segurança americana, que desde agosto do ano passado forçou ministros do governo a abrir mão de smartphones e tablets para usos oficiais, o chefe de Estado francês recebeu um telefone Teorem ultrasseguro, com capacidades de encriptação.

    Mas o predecessor de Hollande, Nicolas Sarkozy, achava o aparelho Teorem desajeitado e se negava a usá-lo porque eram necessários 30 segundos para digitar um número de telefone, "tempo demais para ele", segundo um assessor.

    Sarkozy, que era "viciado" em BlackBerry, não parecia excessivamente preocupado com a cibersegurança no início de sua Presidência: em 2007, na cúpula do G8 em Heilingendamm, ele foi fotografado entregando seu celular a Vladimir Putin, quando compartilharam uma ligação.

    Hoje em dia o ex-presidente está mais circunspecto. Num esforço (malsucedido) para evitar grampos telefônicos, ele comprou um celular novo, usando o nome emprestado de Paul Bismuth. O Paul Bismuth real está ameaçando com uma ação legal contra o ex-presidente e seu advogado, amigo de escola do empresário francês, que diz que sua identidade foi roubada.

    Enquanto isso, um memorando do governo francês aconselha os usuários de telefones ministeriais a adotar senhas compridas que devem ser trocadas a cada seis meses; nunca deixar seu telefone à vista em algum lugar, especialmente quando viajam ao exterior, e jamais usar um smartphone para transmitir informações delicadas, inclusive em mensagens de texto.

    ANNE PENKETH, em Paris

    COREIA DO NORTE

    As especulações sobre o celular de Kim Jong-un aumentaram depois de ele ter sido fotografado numa reunião de segurança nacional em janeiro de 2013 com um smartphone aparentemente fabricado pela companhia taiuanesa HTC.

    A mídia sul-coreana disse que o líder norte-coreano provavelmente usava seu aparelho para falar com membros de sua família e funcionários seniores do Partido dos Trabalhadores da Coreia. Kim é um dos estimados 2 milhões de usuários de celulares entre os 25 milhões de habitantes da Coreia do Norte.

    O país vende os smartphones como sendo de sua fabricação, mas, segundo Martyn Williams, que tem o blog North Korea Tech, todos os aparelhos são fabricados na China e reembalados com nomes de marca locais. Modelos estrangeiros também são apreciados, mas são caros.

    Na Coreia do Norte o uso de celulares se limita a autoridades e suas famílias, residentes ricos da capital, Pyongyang, e, cada vez mais, comerciantes e empresários que têm laços com a China. A maioria dos telefones usa o serviço doméstico de telefonia celular Koryolink, de 3G, uma joint venture entre a empresa egípcia Orascom Telecom e o Ministério norte-coreano dos Correios e Telecomunicações. Mas os usuários que estão perto da China podem captar o sinal das operadoras chinesas.

    Os assinantes norte-coreanos não são autorizados a acessar a internet com seus celulares, apenas a fazer ligações e enviar mensagens de texto dentro do país. Não há acesso internacional. Residentes estrangeiros podem usar celulares para comunicar-se entre eles e fazer ligações para o exterior, mas não para entrar em contato com norte-coreanos locais, disse Williams.

    JUSTIN MCCURRY, em Tóquio

    ITÁLIA

    O primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, não é um simples usuário do iPhone –é devoto da Apple, tendo certa vez se feito fotografar ao lado da placa na entrada da sede da empresa. Quando Steve Jobs morreu, Renzi escreveu uma homenagem a ele em sua página do Facebook, descrevendo-o como "o Leonardo da Vinci de nosso tempo".

    Renzi já usou seu iPhone para mandar mensagens de texto de mais de um tipo. Em 2012, quando primeiro fez campanha pela liderança do partido Democrático, de centro-esquerda, prometendo "rottamare" (demolir) a liderança antiga, ele mandou fazer uma capa para seu smartphone com o slogan "fique tranquilo e rottama".

    JOHN HOOPER, em Roma

    Tradução de CLARA ALLAIN

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