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    Apesar do passado, controles de segurança são fracos em Fort Hood

    MANNY FERNANDEZ
    ERIC SCHMITT
    DO "NEW YORK TIMES", EM KILLEEN (TEXAS)

    04/04/2014 12h11

    O perturbado veterano da guerra do Iraque que usou uma pistola calibre .45 para matar três pessoas e ferir outras 16 na quarta-feira, em Fort Hood, não teria enfrentado verificações de segurança e nem precisaria passar por detectores de metais para entrar na base.

    A informação foi dada nesta quinta-feira por pessoas que conhecem os procedimentos de entrada no posto militar, o que indica que, quase cinco anos depois de um incidente sangrento de ataque com arma de fogo na base, continua fácil para um soldado ou mesmo para um visitante entrar na área armado.

    As regras de Fort Hood quanto ao porte de armas por soldados que não sejam membro da Polícia do Exército são em larga medida um código de honra.

    As regras proíbem que soldados armazenem armas em seus veículos, requerem que as armas de fogo sejam depositadas em certas áreas de armazenagem e determinam que todas as pessoas que entrem na base portando armas pessoais declarem que o estão fazendo e expliquem o motivo.

    O porte de armas pessoais em instalações militares é proibido a não ser sob autorização prévia do oficial superior da pessoa em questão. A violação das normas pode resultar em penas judiciais ou administrativas.

    "A ideia de realizar uma revista completa em uma instalação militar que abriga 50 mil pessoas é francamente inviável", disse o coronel Steve Warren, porta-voz do Departamento de Defesa, em conversa com jornalistas no Pentágono, quinta-feira. "Realizamos verificações aleatórias. Não há obrigação de declarar porte de armas".

    Em 5 de novembro de 2009, em uma unidade de processamento médico em Fort Hood, o major Nidal Malik Hasan matou 12 soldados e um civil, e feriu ou disparou contra 30 outros soldados e dois policiais. Ele chegou à base naquele dia portando uma arma semiautomática e um revólver calibre .357 em seu veículo.

    "Eu poderia percorrer toda a base com uma arma no meu veículo e ninguém saberia –mas, ei, é a mesma coisa que pode acontecer em um Starbucks", disse John Galligan, o advogado civil de Hasan e ex-juiz militar em Fort Hood.

    "Se a arma estiver no porta-malas do carro ou embaixo do banco, não será vista, a não ser que o comando decida começar a revistar todos os veículos que entram na base".

    Depois do ataque de 2009, de acordo com a Associated Press, as Forças Armadas reforçaram a segurança em suas bases em todo o país.

    Isso incluiu fornecer armas pesadas ao pessoal de segurança, treiná-lo para a possibilidade de ataques executados de dentro da base e o reforço dos contatos com as agências locais de polícia.

    As Forças Armadas também passaram a participar de um programa de troca de informações administrado pelo Birô Federal de Investigações (FBI), com o objetivo de identificar ameaças terroristas.

    A Reuters reportou que Fort Hood havia remodelado seus procedimentos de segurança para enfrentar melhor as possíveis "ameaças internas", depois do ataque de Hasan.

    Esses procedimento de segurança são apenas uma das diversas áreas de investigação para os oficiais do exército e os investigadores policiais que estão investigando o ataque realizado pelo soldado especialista Ivan Lopez, na quarta-feira.

    O comandante da base, tenente-general Mark Milley, declarou em uma entrevista coletiva na noite de quarta-feira que a resposta do pessoal militar ao ataque foi rápida e apropriada.

    As autoridades afirmaram que Lopez parece ter entrado em um edifício e depois entrado em um veículo, do qual passou a disparar com uma pistola semiautomática Smith & Wesson calibre .45, adquirida pouco tempo antes na região de Killeen.

    Ele saiu do veículo, caminhou até outro edifício e voltou a abrir fogo, e depois teve um contato com uma policial do exército antes de se matar.

    Milley disse que ele levantou as mãos, e depois colocou uma delas por sob a jaqueta. A policial sacou a arma, e Lopez apontou a arma dele contra a própria cabeça e disparou. Milley descreveu as ações da policial como "claramente heroicas".

    "Ela fez seu trabalho", ele disse. "Fez exatamente o que a Polícia do Exército dos Estados Unidos deveria fazer".

    No mês passado, o secretário da Defesa norte-americano, Chuck Hagel, ordenou novos procedimentos de segurança no Pentágono e nas bases militares dos Estados Unidos, em resposta a um ataque em um estaleiro da marinha em Washington que terminou com 12 mortes, em setembro.

    A revisão do Departamento de Defesa sobre o ataque ao estaleiro concluiu que as mortes poderiam ter sido prevenidas caso a Marinha tivesse avaliado e reportado devidamente o comportamento alarmante do responsável pelo ataque, Aaron Alexis, antigo reservista naval.

    Ao discutir o ataque, Hagel declarou que uma revisão independente havia constatado que as ameaças aos militares estavam cada vez mais vindo de dentro das Forças Armadas, o que inclui colegas dotados de licenças de segurança.

    A revisão independente classificou como antiquado o procedimento geral de segurança nas instalações do Pentágono, com concentração excessiva em manter o perímetro seguro contra ameaças externas e falta de atenção à possível ameaça de pessoas dotadas de licença de entrada.

    A revisão recomendou que o Pentágono reconsidere o número de pessoas portadoras de licenças de entrada, e que pense em reduzi-lo em pelo menos 10%.

    Hagel disse que as revisões haviam identificado "brechas perturbadoras" na capacidade do Departamento de Defesa para "detectar, prevenir e responder a casos em que alguém que trabalha para nós –um funcionário do governo, membro das Forças Armadas ou prestador de serviços– decida infligir danos a esta instituição e seu pessoal".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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