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    Em telefonema, embaixadores dizem que Rússia invadirá Veneza e Alasca

    SHAUN WALKER
    DO "GUARDIAN"

    04/04/2014 12h19

    Surgiu online uma gravação que supostamente registra uma conversa entre dois embaixadores russos discutindo que partes do mundo eles gostariam de anexar depois da Crimeia.

    A gravação de cinco minutos, repleta de palavrões, foi postada no YouTube e alega registrar uma conversa entre Igor Chubarov, embaixador russo na Eritreia, e Sergei Bakharev, que representa Moscou em Zimbábue e no Malaui. Sua autenticidade não foi confirmada.

    "Já temos a Crimeia, mas essa porra não é tudo, pessoal. No futuro vamos tomar a maldita Catalunha e Veneza, e também Escócia e Alasca", diz a voz identificada como Chubarov, em meio a risadas, e usando um trocadilho em russo que faz com que Escócia soe como "terra do gado".

    Depois disso, Chubarov afirma que a Rússia vai "avançar sobre todos aqueles países de merda na fronteira", como a Estônia, bem como Romênia e Bulgária. Ele acrescenta que o chefe da missão da União Europeia na Eritreia havia declarado como piada, em conversa recente, que ele adoraria que a Rússia "retomasse" a Romênia e a Bulgária.

    No final, os embaixadores concordam em que era provavelmente melhor deixar Bulgária, Romênia e "aquela bosta do Báltico" para a União Europeia, por enquanto, e Bakharev diz que seria mais interessante tentar pegar a Califórnia ou Miami.

    "Exato, a Miamilândia é mais ou menos 95% russa, porra", disse Chubarov. "Temos pleno direito de realizar um referendo". Bakharev concordou e sugeriu realizar um referendo também sobre a "Londreslândia". Os dois riram jovialmente.

    Chubarov congratulou Bakharev pelo fato de que o Zimbábue, em companhia da Síria e Coreia do Norte, foi um dos apenas 11 países que apoiaram a Rússia na ONU quanto à anexação da Crimeia. Também houve expressões de consternação por os "filhos da mãe" do Malaui não terem apoiado Moscou.

    É possível que o vazamento da gravação seja uma vingança pela recente onda de vazamentos de comunicações diplomáticas de alto nível do Ocidente sobre a crise da Ucrânia. Um telefonema entre Victoria Nuland, secretária assistente de Estado norte-americana, e o embaixador dos Estados Unidos em Kiev vazou para a imprensa.

    Na conversa, Nuland discutia sobre orientação estratégica aos líderes do movimento de protesto da Ucrânia, e declarou também que "foda-se a União Europeia", em referência a diferenças entre os norte-americano e europeus quanto à política para a Ucrânia.

    Nuland praticamente confirmou a autenticidade da gravação, alegando que "a qualidade da espionagem realmente me impressionou".

    Mais tarde, vazou a gravação de uma conversa entre Catherine Ashton, chefe da diplomacia europeia, e o ministro do Exterior estoniano Urmas Paet, na qual eles discutiram a teoria de que as pessoas que morreram durante manifestações violentas em Kiev poderiam ter sido vítimas de atiradores de tocaia contratados pela oposição, e não de ações do governo, uma linha que o Ministério do Exterior russo vem defendendo.

    A reação em Moscou à gravação da conversa entre seus embaixadores na África foi mais de diversão que de raiva, especialmente porque os diplomatas gravados tinham posições significativamente inferiores à de Nuland ou Ashton na hierarquia.

    Uma fonte oficial russa, alegando que Nuland não só gosta de falar palavrões em inglês mas se orgulha de sua capacidade de xingar em russo, disse que "se isso foi a resposta deles às expressões fortes de Nuland, podem ter certeza de que nenhum embaixador russo seria capaz de superá-la quanto o assunto é xingar em russo".

    Maria Zakharova, porta-voz assistente do Ministério do Exterior russo, escreveu em sua página do Facebook que não tinha ideia de quem estava falando na fita, mas apontou que a fotografia de Bakharev que aparece no vídeo do YouTube não se parece em nada com ele, e na verdade retrata um diplomata diferente que morreu no ano passado.

    Zakharova insinuou que a gravação era uma manobra canhestra dos Estados Unidos e a comparou a um incidente durante a "retomada" das relações entre os Estados Unidos e a Rússia no qual a secretária de Estado norte-americano Hillary Clinton presenteou seu colega, o ministro do Exterior russo Sergei Lavrov, com um broche que supostamente deveria ter a palavra "retomada", mas que errou no russo e em lugar disso dizia "sobrecarga".

    "É como no caso do broche da 'sobrecarga'. Eles queriam fazer algo melhor que o usual, mas o resultado foi o de sempre", escreveu Zakharova.

    Desde a crise na Ucrânia, a guerra diplomática de palavras e vazamentos se intensificou. No mês passado, em uma declaração oficial detalhando supostas declarações falsas do presidente Vladimir Putin, o Departamento de Estado norte-americano afirmou que "o mundo não via ficção russa tão espantosa desde Dostoiévski".

    Na quinta-feira, o ministro assistente do Exterior russo, Sergei Ryabkov, acusou os Estados Unidos de "chiliques infantis" quanto à Crimeia.

    "O que podemos aconselhar aos nossos colegas norte-americanos? Eles precisam de mais ar fresco, ioga, alimentação saudável, talvez assistir a algumas séries de humor na TV", disse Ryabkov em declaração à agência de notícias Interfax.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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