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    Sanções contra Putin não têm efeito, diz analista ucraniano

    LEANDRO COLON
    DE LONDRES

    17/04/2014 03h04

    O movimento separatista no leste da Ucrânia seria "impossível" sem o apoio da Rússia. Essa é a opinião de Igor Todorov, professor de relações internacionais e diretor do Centro de Informação sobre União Europeia da Universidade Nacional de Donetsk, na Ucrânia.

    Em entrevista à Folha, ele diz que, embora não haja um sentimento majoritário separatista na região, o governo da Ucrânia tem dificuldades históricas de comunicação com as forças políticas locais.

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    Folha - Qual sua avaliação sobre os recentes acontecimentos no leste da Ucrânia?
    Igor Todorov - Tem sido implementado um cuidadoso e longo plano pela Rússia com o objetivo de eliminar o Estado da Ucrânia.

    É possível comparar a situação no leste do país com o que ocorreu na Crimeia?
    A situação é comparável, apesar de não haver uma razão formal: o sentimento separatista no leste nunca teve e não tem o apoio da maioria da população ou mesmo de uma significativa parte dela. Não há uma autoridade legislativa regional como existe na Crimeia para proclamar um referendo, por exemplo. Mas as forças da Rússia usam métodos como fizeram no começo da ocupação da Crimeia: pequenos grupos especiais de homens vestidos de verde que tomam com armas o controle de prédios.

    A Rússia nega envolvimento. Como o sr. vê o comportamento do presidente Putin?
    O principal método das autoridades russas é uma ruidosa mentira. Donetsk não era uma área de separatismo político e os acontecimentos recentes seriam impossíveis sem a interferência russa. O comportamento de Putin visa a destruição do sistema internacional legal para reviver o "império russo".

    A pressão das potências ocidentais pode brecar o movimento russo no leste?
    As forças do Ocidente como EUA, Europa, Otan, Brasil, deveriam perceber que a Ucrânia precisa ser protegida e que, protegendo a Ucrânia, protegem a si mesmos. As sanções anunciadas contra a Rússia não funcionam.

    Por que não funcionam?
    Moscou está preparada para enfrentar custos econômicos. Putin já mostrou que está pronto para tentar devolver o ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovich ao poder, o que pode aumentar a escalada da violência no país.

    Como o sr. vê a lenta reação da Ucrânia à anexação da Crimeia e, agora, às ocupações no leste do país? Por que Kiev tem dificuldade em reagir?
    O governo ucraniano tem dificuldade de comunicação com o leste já que a região sempre esteve sob influência de partidos políticos locais. A propaganda local sempre pintou uma imagem negativa do governo. Há uma tentativa de estabelecer um diálogo com ajuda da oligarquia local, mas é difícil porque os oligarcas buscam preservar suas tradicionais posições.

    O senhor poderia explicar o contexto histórico, político e étnico do leste da Ucrânia para entendermos melhor a atual crise na região?
    Em 1991, 70% dos residentes na região votaram no referendo pela independência da Ucrânia. Mas um nível de mentalidade pró-Rússia foi sempre mantido. Isso explica, por exemplo, a formação um comportamento eleitoral pró-Moscou na população.

    Muitas pessoas na região votam nas eleições locais a favor do partido comunista e de políticos pró-Rússia, mas não havia até agora um sentimento separatista.

    Há ainda uma diferença de gerações que explica também o atual cenário: de acordo com recente pesquisa de 2013, cerca de 60% da população acima de 55 anos em Donetsk se considera russa, e parte dela até apoia um separatismo –principalmente aposentados, com a nostalgia pela União Soviética.

    Enquanto 75% de jovens, entre 18 e 25 anos, se identificam como ucranianos.

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