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    Após recorde de deportações, latinos ameaçam retirar seu apoio a Obama

    RAUL JUSTE LORES
    DE WASHINGTON

    21/04/2014 03h00

    Cansadas de esperar por uma reforma imigratória que regularize a situação de 11 milhões de imigrantes sem papéis nos EUA, organizações latinas estão deixando de pressionar a oposição republicana (que controla a Câmara dos Deputados) e escolheram o presidente Barack Obama como alvo de sua frustração.

    A presidente da maior e mais antiga organização hispânica do país, The National Council of La Raza, Janet Murguía, chamou Obama de "deportador-chefe" no mês passado, e disse que seu legado como presidente "estava ameaçado".

    "Obama já deportou 2 milhões de imigrantes em cinco anos, está passando os níveis do governo Bush e não podemos esperar mais pela ação do Congresso. Queremos que ele faça alguma coisa", disse Murguía, que se encontrou com o presidente na Casa Branca no mês passado.

    A mudança de humor entre a militância latina surpreende mais porque a minoria hispânica é uma das mais fiéis bases de apoio do presidente: 71% dos eleitores hispânicos votaram pela reeleição dele em 2012.

    Em setembro passado, um grupo de imigrantes se algemou às grades da Casa Branca em protesto; em novembro, outro fez greve de fome numa tenda de Washington.
    Dependendo da fonte utilizada, o recorde de deportações é alvo de discussão, pelo emaranhado de diferentes estatísticas e do que significa "deportação" para as diferentes agências americanas.

    A maior parte das deportações ainda é de mexicanos capturados enquanto tentavam entrar no país, a menos de 160 km da fronteira, e que são enviados de volta.
    Só que, no passado, essas pessoas não eram registradas pela polícia como deportadas e desde 2002 são, o que fez disparar as estatísticas.

    Como é bastante comum que os deportados voltem para os EUA de forma ilegal depois, especialmente porque seus parentes ou empregos continuam por lá, essa passagem pela polícia pode complicar muito a situação.

    RACISMO

    Outro problema para os imigrantes é o programa "Comunidades Seguras", inicialmente implementado em áreas de fronteira, mas hoje adotado por diversos Estados.

    Quando uma pessoa é detida nas jurisdições do programa, a polícia pode checar uma base de dados federal para conferir o status de quem cometeu o crime ou contravenção.

    Assim, o desrespeito a uma lei de trânsito, por exemplo, pode levar a polícia a deter o imigrante ilegal -e a Polícia Federal é acionada para deportá-lo.

    Várias organizações acusam o programa de premiar o racismo de policiais que estariam detendo especialmente quem, pela cor da pele, parece ser imigrante mexicano ou da América Central.

    A pressão das ONGs latinas sobre Obama tem surtido efeito. O presidente determinou que a política de deportação seja "revista" e pediu para as entidades terem "paciência" e pressionarem os republicanos durante a campanha para o Congresso no fim deste ano.

    "Obama assinou um decreto em 2012 para proibir as deportações de imigrantes sem papéis que chegaram aos EUA como crianças juntos dos pais. Ele precisa estender essas garantias aos demais imigrantes enquanto a reforma não acontece", disse à Folha a brasileira Renata Teodoro, da ONG Movimento dos Estudantes Imigrantes (SMI, na sigla em inglês).

    Pablo Alvarado, da Rede de Organização Trabalhista do Dia Nacional, diz que votou em Obama. "Quero que ele vá bem, que ele nos emancipe em vez de deportar. A hora de fazer a escolha é agora."

    Para Mark Krikorian, do Centro de Estudos de Imigração, qualquer mudança antes das eleições pode ter consequências imprevisíveis. "Obama precisa acalmar os ativistas até a eleição. Qualquer mudança para agradar o eleitorado latino pode energizar os conservadores republicanos, mais predispostos a votar contra ele."

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