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    Crimeia vive rotina de caos após anexação da Rússia

    NEIL MACFARQUHAR
    DO "NEW YORK TIMES", EM SIMFEROPOL

    23/04/2014 03h05

    Depois que a Rússia anexou a Crimeia praticamente do dia para a noite, os burocratas russos que cuidam dos passaportes e licenças de residência passaram a ocupar o mesmo edifício usado pelos antecessores ucranianos em Simferopol, capital da península. Diante dele, Roman Nikolaiev espera a cada dia pela resposta a uma pergunta aparentemente banal.

    Sua filha e neta haviam acabado de chegar da Ucrânia quando, de repente, se viram em um país diferente, e ele quer saber se elas podem se tornar residentes legais. Mas não consegue entrar no edifício para obter uma resposta porque tem a senha nº 4.475 na lista de espera.

    "Antes tínhamos um país bastante organizado, a vida era fácil", diz Nikolaiev.

    Artur Shvarts/Efe
    Em Simferopol, moradores fazem fila diante da agência do único banco que tem funcionado normalmente na Crimeia
    Em Simferopol, moradores fazem fila diante da agência do único banco que tem funcionado normalmente na Crimeia

    Hoje, poucas instituições funcionam normalmente na Crimeia. A maioria dos bancos está fechada. Os cartórios de registro de imóveis também. Os casos judiciais foram adiados indefinidamente. As importações de comida estão desorganizadas. Algumas empresas estrangeiras, como o McDonald's, fecharam.

    Outras mudanças são mais sinistras: "unidades de autodefesa", que não contam com nenhuma autorização oficial, fazem inspeções repentinas em estações de trem.

    Os moradores da Crimeia se veem necessitados de coisas novas a cada dia –carteiras de habilitação, seguros e receitas médicas, passaportes e fichas escolares. Os russos que chegaram em busca de oportunidades estão igualmente frustrados.

    "PREGUIÇOSOS"

    O governo da Crimeia desconsidera todas as dúvidas e queixas. "Besteira!", diz Yelena Yurchenko, ministra do Turismo e Lazer e filha de um almirante russo que escolheu a Crimeia como moradia ao se reformar. Essas são "questões pequenas que podem ser resolvidas à medida que aparecerem", afirma. "Elas podem resultar em tensão para as pessoas preguiçosas, que não querem progredir."

    O governo russo, que anunciou planos para tornar a região um polo de cassinos, estabeleceu um prazo oficial até 1º de janeiro de 2015 para a transição.

    O custo inicial alocado a "todos os programas da Crimeia" neste ano será de US$ 2,85 bilhões, mas, dadas as promessas do Kremlin quanto a tudo, de infraestrutura a dobrar as aposentadorias, o gasto final da anexação deve ser muito mais alto que isso.

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