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    EUA debatem modelo de acesso universitário

    FABIANO MAISONNAVE
    DE SÃO PAULO

    24/04/2014 03h15

    A decisão da Suprema Corte dos EUA de manter o veto do critério racial para ingresso nas universidades do Estado do Michigan tende a acelerar a adoção de políticas alternativas de ação afirmativa já implantadas em algumas universidades, como a que privilegia alunos cujos pais não têm curso superior.

    "As ações afirmativas baseadas em raça nos EUA são legal e politicamente vulneráveis", disse à Folha Halley Potter, especialista em educação do centro de estudos The Century Foundation, sediado em Washington.

    "Legalmente, as políticas públicas são submetidas ao mais restritivo padrão de revisão legal, o 'escrutínio estrito'. Politicamente, as preferências raciais são muitas vezes impopulares na opinião pública e entre os representantes eleitos", completou.

    Potter é coautora do estudo "A Better Affirmative Action" (uma melhor ação afirmativa), que avalia políticas de ingresso em sete Estados (de um total de oito) que deixaram de usar raça como critério, incluindo a Califórnia.

    Segundo o relatório, sete de dez importantes universidades públicas conseguiram manter e até aumentar proporção de alunos negros e latinos depois da substituição de critérios raciais por outros socioeconômicos.

    Um levantamento semelhante publicado na quarta pelo jornal "New York Times" traz resultados diferentes: de cinco Estados que baniram o critério racial, em quatro houve queda percentual de alunos negros e latinos.

    Em Michigan, onde o fim do critério racial foi aprovado por 58% dos eleitores em referendo em 2006 –decisão mantida pela Suprema Corte na terça–, o percentual de novos alunos negros caiu 25% nas universidades e faculdades públicas estaduais.

    Desde 2008, quando a decisão do referendo entrou em vigor, a Universidade de Michigan criou processos de admissão que levam em conta critérios socioeconômicos.

    Um deles, "circunstâncias extenuantes", inclui variáveis como a escola de ensino médio e se os pais não têm inglês como primeira língua.

    EDUCAÇÃO FAMILIAR

    Uma das experiências que mais têm chamado a atenção são os programas Primeira Geração, em que o aluno cujos pais não possuem curso superior tem a acesso a uma série de incentivos.

    "Os programas mais eficientes de primeira geração combinam recrutamento com apoio financeiro", diz Potter.

    "A Universidade da Flórida, por exemplo, tem um programa impressionante para incluir alunos de primeira geração e baixa renda, oferecendo bolsas integrais. Esse programa tem ajudado a universidade a ter um corpo discente com um diversidade racial e socioeconômica."

    O Estado da Flórida, onde o critério racial foi banido em 2001, vem tendo resultados melhores do que a média.

    De acordo com o levantamento do "Times", as duas universidades mais importantes do Estado têm conseguido manter o mesmo número de universitários hispânicos desde que o critério racial foi abolido.

    No Texas, onde o critério racial foi abandonado há mais tempo (1997), foi criado o programa "Os 10% de Melhor Desempenho", no qual os alunos com as nota mais altas de todas as escolas de ensino médio têm vaga assegurada na universidade.

    Apesar de a experiência ter sido copiada por outros Estados, o número de estudantes negros e latinos vem caindo desde então, ainda de acordo com o "Times".

    Em 2005, a Universidade do Texas voltou a adotar ações afirmativas.

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