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    Contra cortes de luz, geradores privados se espalham por Bagdá

    SAMY ADGHIRNI
    ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

    02/05/2014 03h00

    Em Bagdá, capital do Iraque, é praticamente impossível ver TV ou navegar na internet sem ser interrompido por quedas de energia.

    Num país de infraestrutura devastada por guerras e corrupção, muitas cidades passam boa parte do tempo desconectadas da rede elétrica.

    Para minimizar o problema, pessoas e empresas recorrem a geradores privados de energia, a gás ou gasolina, que se tornaram um dos símbolos mais visíveis –e barulhentos– do Iraque pós-Saddam Hussein.
    Acionados sempre que a energia cai, eles se espalham por calçadas comerciais, portarias de prédios e pátios de escolas e hospitais.

    Nos primeiros anos da invasão americana, iniciada em 2003, pequenos modelos de uso doméstico proliferaram.

    Mas o alto custo com combustível e manutenção levou muitos iraquianos a preferirem um sistema de assinaturas junto a intermediários, que investem em geradores mais potentes para revender eletricidade "à la carte".

    Samy Adghirni/Folhapress
    Bolo de fios se forma ao lado de gerador privado na capital do Iraque, Bagdá
    Bolo de fios se forma em prédio ao lado de um dos geradores privados da capital do Iraque, Bagdá

    "Assinei contrato com um sujeito que fornece energia para a minha casa e minha loja. Sem isso, não se vive", diz o comerciante Ryad, 40.

    "O problema é que, juntando contas de luz do governo e do fornecedor privado, pago US$ 1.000 por mês."

    Os geradores coletivos de grande capacidade são do tamanho de uma Kombi e fazem tanto barulho que é preciso se afastar para poder conversar.

    O emaranhado de fios que ligam os aparelhos aos assinantes às vezes forma bolos suspensos a postes e prédios.

    O empresário Haytham bin Karad não se arrepende de ter gastado US$ 34 mil num gerador coletivo. "Tenho 45 clientes, todos comerciantes. Daqui a pouco o verão chega, e o consumo de energia dispara por causa do ar-condicionado. Dá para tirar um bom dinheiro", afirma ele.

    O desabastecimento é um dos desafios à espera do próximo governo, que será formado após a eleição parlamentar da quarta-feira passada. Resultados sairão nos próximos dias.

    Críticos dizem que o problema expõe a incapacidade das autoridades em atender necessidades básicas da população, apesar da bonança petroleira.

    O Ministério da Eletricidade alegou, em entrevista à Al Jazeera no ano passado, que problemas com energia resultam de dois fatores: destruição das instalações durante a guerra e explosão do consumo, devido à generalização do uso da internet e dos aparelhos de ar-condicionado.

    Blecautes remontam aos tempos de Saddam, quando o Iraque sofria embargo econômico. Bagdá, contudo, era amplamente poupada dos cortes pelo regime.

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