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    'Novo' Sendero Luminoso se alia ao tráfico

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL AO PERU

    02/05/2014 03h02

    A prisão de 28 líderes do braço político do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, no começo de abril, evidenciou o que muitos peruanos temiam. O grupo armado que espalhou morte e devastação no interior do Peru nos anos 70/80, causando mais de 70 mil assassinatos, segue ativo.

    "Que eles ainda atuam não é novo. A questão é que agora caminham para ser até mais poderosos, por estar engajados em se tornar uma empresa ligada só ao narcotráfico. Acabou a ideologia", diz Steven Levitsky, professor de Harvard especialista no Peru.

    Segundo a DEA, agência de combate às drogas dos EUA, o Peru é o produtor número 1 de folha de coca e de cocaína hoje na América Latina.

    A investigação que resultou nas prisões começou em 2012, quando o "camarada Artemio" –último líder importante da primeira geração da guerrilha– foi preso.

    "Sempre soubemos que estão ativos. Tudo o que se disse nos anos 90 foi propaganda", diz o comerciante de ferragens Luis Gomez durante visita da Folha a Arequipa, no dia em que as 28 prisões estampavam as primeiras páginas dos jornais na cidade.

    O fim do Sendero foi anunciado durante a ditadura de Alberto Fujimori, quando o governo finalmente prendeu o líder máximo da guerrilha, Abimael Guzmán, em 1992.

    Guzmán foi colocado numa cela e vestido com um uniforme de listras negras, exibido em todos os canais de TV, como símbolo da vitória fujimorista contra a guerrilha.

    Ao mesmo tempo em que o grupo volta à tona em roupagem diferente, intelectuais e escritores tentam entender a sua formação, praticamente única na história das guerrilhas latino-americanas.

    Os estudiosos concordam que o nível de politização e fanatismo ideológico no Peru foi muito mais exaltado do que em outras experiências, como a das Farc colombianas.

    Para o jornalista Gustavo Gorriti, autor do mais completo trabalho sobre o grupo, "Sendero - História de la Guerra Milenaria en el Peru", era um "movimento cuja disciplina, intensidade e fanatismo não tinham paralelo na história América Latina".

    Os líderes senderistas iniciaram o movimento depois de inflamadas discussões para estudar a filosofia militar maoista aplicada à realidade da sociedade rural peruana.

    "Seu apoio estava nos estudantes das universidades mais afastadas, das serras peruanas. Ali havia espaço para que Guzmán saísse pregando", diz Santiago Roncagliolo, autor de uma biografia do guerrilheiro para a qual entrevistou a maioria dos terroristas detidos pelo Estado após a derrota nos anos 90.

    No Peru de hoje, além do novo alinhamento do que restou do grupo com o narcotráfico, há o rescaldo do outro lado –no momento mais grave da guerra, o governo decidiu armar os civis e apoiar que lutassem por si mesmos por suas vidas e propriedades.

    Na época, o Sendero regulava suas atividades, cometia extorsões, proibia festas, fazia "julgamentos populares" e execuções, espalhando o terror entre a população civil.

    A polêmica formação das "rondas" – na prática, milícias civis com a bênção do Estado– foi celebrada pelos moradores. Finda a guerra, foram desativadas, mas ainda são discutidas nos povoados onde a polícia e o Exército não se impõem. A população local às vezes pede que sejam reorganizadas com vistas a uma nova fase da luta.

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