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    Comércio de luxo em Paris vive onda de assaltos

    GRACILIANO ROCHA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

    06/05/2014 02h00

    Joalherias caras, relojoarias exclusivas e lojas frequentadas por milionários e top models se tornaram o alvo de uma onda de roubos na região da place Vendôme, símbolo do glamour em Paris.

    Famosa por ter sido residência da estilista Coco Chanel e abrigar o mítico hotel Ritz, a praça está no epicentro de uma área onde houve oito ataques ao comércio de luxo em sete meses. Neste mês, uma joalheria e uma loja de roupas completaram a lista. O prejuízo supera € 5 milhões (cerca de R$ 15 milhões).

    O primeiro crime da onda ocorreu em setembro, quando ladrões jogaram um carro contra a vitrine da Casty e, em segundos, fugiram com € 2 milhões em joias e relógios.

    Menos de um mês depois, foi a vez da loja da relojoaria suíça Vacheron Constantin.

    Dois assaltantes armados se passando por clientes seguraram a porta e outros seis cúmplices mascarados, munidos de marretas e machados, quebraram os mostradores e levaram 20 relógios avaliados em € 1 milhão. Na fuga, comparsas que esperavam do lado de fora jogaram bombas de fumaça na loja.

    A rue Saint-Honoré, ao lado da place Vendôme, é recordista: cinco lojas e joalherias atacadas desde dezembro. Na maioria dos crimes, os ladrões estilhaçaram vitrines a golpes de martelo.

    Editoria de arte/Folhapress

    Na Colette, boutique frequentada por celebridades como a top model Kate Moss, dois homens armados renderam os sete funcionários e fugiram com relógios avaliados em € 600 mil em março.

    Houve outra tentativa na madrugada de ontem: uma van foi jogada contra a vitrine da relojoaria Bucherer, mas os ladrões fugiram sem nada.

    A Folha entrou em contato com todos os estabelecimentos roubados, mas nenhum dono ou gerente aceitou conceder entrevista sobre os crimes, alegando não querer dar publicidade aos casos.

    "Eles sabiam o que queriam. Chegaram, pegaram uma porção de relógios e fugiram muito rápido. Não ficaram nem dois minutos na loja", disse um funcionário de uma das lojas atacadas, único que aceitou falar sob a condição de que o estabelecimento não fosse identificado.

    O aumento dos assaltos no coração do luxo de Paris está na contramão das estatísticas da França. Entre janeiro e abril deste ano, houve 19 ataques a joalherias em todo o país –metade do ocorrido no mesmo período de 2013.

    O chefe de polícia da região, François Neveu, afirmou que a segurança na área foi reforçada por câmeras e por 40 policiais deslocados de outras áreas de Paris.

    A ideia do ladrão de joias refinado e solitário, consagrado na literatura francesa por Arsène Lupin, personagem do escritor Maurice Leblanc, é cada vez mais ficcional.

    Segundo o consultor de segurança Doron Lévy, especialista em mercado de luxo, cresce a incidência de crimes planejados e executados por quadrilhas do Leste Europeu.

    No cinematográfico roubo da Vacheron Constantin, a polícia prendeu dois adolescente romenos de 17 anos. Os relógios nunca foram recuperados. Pouco depois, outros sete romenos foram detidos numa tentativa frustrada de estourar as vitrines da Rolex na avenida Champs-Elysées.

    "Já foram identificadas conexões dos roubos aqui com grupos da Romênia, de Montenegro e da Lituânia. Muitas vezes, eles usam jovens imigrantes ilegais que estão aqui como mão de obra barata", diz Lévy, autor do livro "Braquages" ("roubos"), sobre criminalidade na França.

    Segundo ele, a ação dos assaltantes é facilitada pela resistência de muitas casas em usar um aparato de segurança ostensivo, para não parecerem antipáticas à clientela.

    "Essas lojas são alvo fácil porque têm mercadoria de altíssimo valor, fácil de ser transportada e que encontra clientes no mercado negro."

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