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    Mulher do presidente peruano, Nadine Heredia influencia governo do país

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL AO PERU

    07/05/2014 02h00

    Nas últimas semanas de março, os jornais peruanos só estampavam um tema em suas manchetes.

    Por meio de supostas fontes diplomáticas, jamais provadas, afirmavam que o presidente do país, Ollanta Humala, havia tido um filho fora do casamento –acusação desmentida por ele.

    Mais que pura fofoca, o fato, se confirmado, poderia definir os rumos da eleição de 2016: sua mulher e principal aliada política, Nadine Heredia, está impedida de disputar a Presidência enquanto for casada com Humala. Um suposto filho ilegítimo poderia ser motivo para um divórcio, e seu caminho estaria livre para alcançar o posto.

    "Trata-se de um governo que perdeu a base de apoio político e agora traça estratagemas para fixar-se no poder. No caso do filho, não há certeza de quem plantou a notícia, mas os peruanos já não acreditam em qualquer coisa que escutam. A popularidade de Nadine está em queda radical", diz o editor da revista "Poder", David Rivera.

    Não é de hoje que Nadine é uma espécie de obsessão nacional.

    Socióloga com sólida formação acadêmica e passado de engajamento na esquerda nacionalista, intérprete de canções de protesto quando estudante, essa mulher de 37 anos e mãe dos três filhos de Humala desde cedo sinalizava querer protagonismo no projeto do marido.

    No governo, Nadine tornou-se a principal articuladora de Humala no Congresso. Esteve por trás de aprovações de leis, mudanças no ministério (cinco em dois anos) e "fritura" de ex-aliados.

    Na última troca de gabinete, o Congresso se revoltou contra a ingerência da primeira-dama e resolveu barrar a mudança; o veto só foi suspenso após a intervenção do escritor Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura peruano.

    Vargas Llosa já disse que apoiaria uma candidatura de Nadine, mas só em 2021, quando ela poderia disputar sem ter de se divorciar: "Está mais que na hora de o Peru ter uma presidente mulher". Por ora, a primeira-dama nega que queira se candidatar.

    'MÃE DOS POBRES'

    Além da atuação política, Nadine veste-se de indígena quando visita os bairros mais humildes, emociona-se com as crianças, e posa, à sua maneira, como uma mãe dos pobres, aos moldes de Eva Perón (1919-1952) na Argentina.

    A comparação com a Argentina move os duros ataques do ex-presidente Alan García. Ele acusa o casal de tentar a mesma tática dos argentinos Néstor (1950-2010) e Cristina Kirchner.

    Para Nadine, os ataques são de machistas que não suportam ver uma mulher em outro papel que não o de dona de casa.

    Segundo o instituto de pesquisa Ipsos, 66% dos peruanos acreditam que a primeira-dama esteja afetando o desempenho do governo.

    "Ela supre a falta de apoio que Humala não consegue obter pela via democrática", diz à Folha o pesquisador de Harvard Steven Levitsky.

    Já para Julio Carrión, da Universidade de Delaware, o "Peru tem uma copresidente atualmente. Isso não ajuda a democracia. O presidente Humala é responsável diante de seu eleitorado e do Congresso; Nadine Heredia, não".

    Devido às acusações de acumular superpoderes, a aprovação de Nadine caiu muito –ela chegou a até 20 pontos de popularidade a mais que o marido, mas as pesquisas mais recentes dão a ambos pouco mais de 30%.

    Pessoas ouvidas pela Folha nas ruas da capital, Lima, dividem-se em relação à primeira-dama. Mulheres mais jovens –e não necessariamente de extração econômica mais baixa– a admiram.

    "No meio universitário, ela é querida porque, apesar de seus discursos e atitude, não a vemos como alguém autoritário, mas alguém que vai ampliar os direitos da mulher", diz Elena Roque, estudante da Universidade Católica.

    "Ela dá apoio, mas também medo ao presidente, porque o faz lembrar-se de seu passado mais extremo", diz Levitsky.

    Para eleger-se, em 2011, Humala teve de abrandar o discurso esquerdista e adotar uma linha pró-mercado. Nadine, porém, lembra Humala de que as bandeiras a que ele teve de renunciar seguem pedindo resposta.

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