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    Roubos e nova droga preocupam argentinos

    FELIPE GUTIERREZ
    DE BUENOS AIRES

    17/05/2014 02h00

    Ainda que a violência extrema, ou seja, os homicídios, não tenham alcançado altos índices, os argentinos estão preocupados com a falta de segurança.

    O que explica a sensação de vulnerabilidade são as taxas de roubos e a disseminação de uma droga derivada da cocaína, chamada "paco", dizem especialistas no tema.

    A última taxa de homicídios disponível, a de 2010, foi de 5,5 casos para cada 100 mil habitantes. No mesmo ano, o índice no Brasil foi quatro vezes maior: 22,2.

    Segundo a ONG Cels, que estuda direitos humanos, o país tem problemas para produzir dados sobre segurança.

    O Estado de Buenos Aires (excluindo a capital do país) tem informações mais atualizadas. A taxa de 2013 deve ficar em 8,8 homicídios por cada 100 mil habitantes.

    É mais do que nos três anos anteriores, mas não é o pico de homicídios da região: em 2002, eram 13,8 assassinatos para cada 100 mil.

    "As maiores taxas de assassinatos aconteceram no começo dos anos 2000 e estão associadas à crise", afirma Gastón Chilier, diretor da Cels.

    Recentemente, governo e oposição entraram em um debate público sobre violência. A discussão começou com a publicação de um documento da Igreja Católica chamado "Felizes os que Trabalham pela Paz", no qual está escrito que os bispos constatam "com dor e preocupação que a Argentina está enferma com violência".

    Uma pesquisa publicada no último domingo pelo jornal "Perfil" aponta que a falta de segurança é a principal preocupação dos argentinos, com 90% de respostas. O estudo permitia apontar mais de um temor, e a inflação, com 70%, foi o segundo.

    Segundo Chillier, a sociedade argentina costuma ter ondas de alarmismo quando aparecem novas modalidades de roubos. Foi o que aconteceu com algumas práticas no passado, como os assaltos feitos a clubes, depois com aqueles praticados por taxistas e, hoje, pelos "motochorros", duplas que andam em uma moto buscando vítimas no trânsito.

    Os dados sobre roubos também não são atualizados. Em 2008, 973 entre cada 100 mil argentinos havia sido vítima de um assalto (ou seja, excluem-se furtos). Naquele ano, a taxa de brasileiros vítimas foi menos da metade: 439.

    Novamente, os dados da região metropolitana de Buenos Aires (excluindo a cidade de mesmo nome) são um pouco mais atualizados.

    A última informação disponível é de 2011. Os assaltos e assaltos com armas somam mais de 115 mil. Apesar de não haver informação confiável mais recente, até políticos governistas concordam que o número de roubos aumentou.

    É o que diz, por exemplo, o deputado Leonardo Grosso –apesar de atribuir a maior incidência ao fato de hoje, as pessoas terem mais objetos a serem roubados.

    Ele organizou uma discussão no Congresso argentino sobre violência na última quinta-feira. O foco do evento era a agressividade dos policiais e da população.

    Os casos de linchamento que aconteceram no país, segundo ele, foram inéditos.

    "Existe um estereótipo de inimigo social, o do moleque pobre de boné. O estereótipo é amplificado pelos meios de comunicação. As pessoas ficam com medo, e quando pegam um garoto negro de boné acusado de roubar uma carteira, o matam a golpes."

    PACO

    O padre Bachi, 46, que mora em uma favela da região metropolitana de Buenos Aires desde 1997, conta que o último homicídio no local foi há três anos.

    Porém, confirma que os delitos à propriedade ficaram mais ousados e credita isso ao uso maior do "paco", uma mistura de pasta de cocaína com produtos como querosene, que é misturada com tabaco ou maconha e fumada.

    Segundo ele, o "paco" começou a ser usado há cerca de dez anos, mas ficou mais comum nos últimos dois.

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