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    Análise: Movimentação de elite e militares na Tailândia se assemelha a América Latina

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    21/05/2014 02h00

    Se você não tem votos suficientes para ganhar uma eleição, bata às portas dos quartéis. Essa lei não escrita da política, tão conhecida na América Latina, explica a versão "light" de um golpe militar, dada na Tailândia, na forma de estado de sítio e imposição da lei marcial.

    De fato, o grupo político de Thaksin Shinawatra, eleito primeiro-ministro em 2001 e deposto pelos militares cinco anos depois, ganha todas as eleições desde então, com os votos principalmente do interior e dos mais pobres.

    É algo que as classes médias e as elites tailandesas não conseguem suportar, o que as leva a recorrer a todos os artifícios possíveis, legais e ilegais (como o estado de sítio agora) para afastar o grupo do poder.
    Primeiro foi com o próprio Thaksin, hoje exilado mas a sombra por trás do trono da irmã Yingluck.

    Duas semanas atrás, o golpe foi mais original: tomou a forma de ordem da Corte Constitucional para que Yingluck abandonasse o poder.

    O que vem agora? O primeiro-ministro interino, Niwattumrong Boonsongpaisan, assegura que a Tailândia celebrará eleições no próximo dia 3 de agosto.

    É improvável que baste para resolver a crise. Afinal, o clã Shinawatra ganhou o pleito mais recente, realizado em fevereiro, faz, portanto, apenas três meses. Não houve, de lá para cá, nenhuma alteração substancial –salvo os percalços enfrentados pelo governo legítimo– que faça supor que, desta vez, os Shinawatra perderão. Michael Peel , do "Financial Times", relata assim o que pensam os críticos dos militares:

    "[A intervenção militar] é parte de um golpe gradual cuidadosamente orquestrado pelo establishment tradicional, em que as Forças Armadas estão agindo para reforçar os protestos de rua apoiados pela elite, que carece de suporte de âmbito nacional, mas estão respaldando seus simpatizantes nas principais instituições civis e militares para uma campanha destinada a suspender o Parlamento e instalar, no lugar dele, uma Junta não eleita".

    Não seria nenhuma novidade: os militares foram responsáveis por 18 golpes de Estado nos 82 anos decorridos desde o fim da monarquia absoluta, em 1932.

    A reação das elites se deve aos programas típicos do populismo implantados pelo clã Shinawatra, que pode se gabar de dados econômicos bastante bons: o desemprego é de 0,9% da população economicamente ativa, e a inflação não passa de 2% ao ano.

    O problema para o governo deposto é que os protestos bancados pela elite e que serviram para chamar os militares provocaram retração na economia, que encolheu 2,1% no primeiro trimestre, comparado com o último trimestre de 2013.

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