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    Irã prende jovens por dançar em versão local do clipe "Happy"

    SAMY ADGHIRNI
    DE TEERÃ

    21/05/2014 07h45 - Atualizado às 15h59

    A Polícia do Irã prendeu um grupo de jovens por dançar e cantar num vídeo caseiro postado na internet em abril como parte de uma campanha mundial para reproduzir o clipe "Happy", do rapper americano Pharrell Williams.

    Após mobilização nas redes sociais que inclui o próprio Pharrell, os jovens acabaram libertados sob fiança. O diretor do vídeo, porém, continua preso, segundo militantes de direitos humanos.

    Veja Vídeo do clipe iraniano
    Veja Vídeo da prisão dos jovens

    A captura do grupo foi amplamente vista como demonstração de força dos conservadores do regime contra o aumento das liberdades defendido pelo presidente Hasan Rowhani, que condenou a ação policial.
    A TV estatal anunciou as detenções na noite de terça-feira e exibiu imagens de três rapazes e três moças de costas para a câmera.

    A Polícia disse que o clipe era "obsceno" e violava a "castidade social", uma aparente referência ao fato de os jovens terem ferido a lei que proíbe contato físico entre pessoas do sexo oposto sem vínculo familiar.
    Algumas das moças no vídeo aparecem sem véu, o que também é proibido pela versão iraniana da sharia, a lei islâmica.

    O clipe foi filmado com smartphones e postado no Youtube atendendo a incentivos de Pharrell Williams para que fãs do mundo inteiro copiassem seu vídeo "Happy", no qual pessoas comuns de vários tipos e idades aparecem alegres dançando em locais públicos.

    Houve várias cópias de "Happy" feitas por iranianos, mas não está claro se outras prisões ocorreram.

    Numa suposta confissão exibida pela TV estatal, um dos jovens presos contou, sem mostrar o rosto, ter sido ludibriado pelo diretor que garantiu, segundo ele, possuir as devidas permissões de filmagem.

    Uma das detidas relatou, com voz de choro, que o responsável pela filmagem havia prometido não divulgar o vídeo.

    A ação causou tristeza e revolta nas redes sociais, banidas no Irã, mas amplamente acessadas graças a programas antifiltro.

    "Vocês não podem nos impedir de ser felizes", disse uma iraniana na campanha #freehappyiranians que se alastrou pelo twitter.

    O rapper Pharrel Williams postou mensagem de apoio aos iranianos presos: "é mais do que triste que estes garotos sejam presos por propagar felicidade."

    Num claro sinal das lutas internas na cúpula do regime iraniano, o presidente Rowhani também usou o twitter para dizer que a "felicidade é um direito das pessoas" e que não se deve reprimir "comportamentos causados pela alegria."

    VERDADEIRO ALVO

    Apesar de o vídeo ter sido postado há três semanas, a prisão dos jovens só ocorreu depois de um discurso de Rowhani pregando mais liberdades individuais, o que reforça a tese de que o presidente pode ter sido o verdadeiro alvo da ação policial.

    No ultimo fim de semana, Rowhani disse, durante encontro com profissionais do setor tecnológico, que a internet deve ser vista como uma "oportunidade" e um "aumentador de eficiência".

    "O direito de os nossos cidadãos acessarem redes internacionais de informação é algo que reconhecemos formalmente. Por que estamos tão nervosos? Por que não confiamos na nossa juventude?", questionou.

    Rowhani foi eleito em junho do ano passado graças à promessa de maior abertura interna e melhor relação com o Ocidente como forma de obter o fim das sanções econômicas.

    Mas, no fragmentado e complexo sistema de governo iraniano, o presidente tem poderes limitados.

    Questões morais competem ao Judiciário e ao aparato de segurança, controlados por conservadores que enxergam movimentos de abertura como capitulação diante da pressão ocidental.

    Os ideólogos mais linha dura do regime revolucionário implementado em 1979 parecem ter apoio do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, detentor da palavra final no Irã.

    Em discurso pelo Ano Novo persa, em março, Khamenei disse que a gestão dos temas morais e culturais é mais importantes do que a economia.

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