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    Itamaraty sofre onda de ataques de hackers

    MÁRCIO RESENDE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    FÁBIO ZANINI
    EDITOR DE "MUNDO"

    28/05/2014 02h01

    E-mails e sistemas de dados do Itamaraty vêm sofrendo desde a semana passada uma onda de ataques eletrônicos. O ministério não detalha o tamanho do dano e que tipo de informações foram acessadas, mas sabe que a ação ainda não está totalmente neutralizada.

    Os ataques, a poucos dias do início da Copa, foram revelados pela Folha nesta terça-feira (27).

    Foram hackeados e-mails, a intranet (rede interna dos funcionários) e alguns documentos do Intradocs, sistema interno que reúne as comunicações diplomáticas, inclusive as reservadas.

    O Itamaraty afirma que não houve invasão do Intradocs em si, mas acesso a conteúdo desse sistema que tiver sido anexado a e-mails violados. Diz ainda que o hackeamento da intranet, ocorrido no fim de semana, foi rapidamente solucionado.

    A Folha apurou que vazaram, entre outros, textos internos preparatórios da visita do vice-presidente americano, Joe Biden, ao Brasil, em junho, e um resumo da participação brasileira numa cúpula de segurança nuclear ocorrida na Holanda em março -chamado no jargão interno de "maço".

    No início desta terça (27), os ataques pioraram e levaram os e-mails a ficar inutilizáveis. No meio da tarde, o sistema começou a ser restabelecido.

    Editoria de arte/Folhapress
    CAIU NA REDE... Diplomacia brasileira é alvo de hackers

    A Polícia Federal e o Gabinete de Segurança Institucional investigam os responsáveis. A hipótese mais provável é ser obra do grupo de hackers Anonymous.

    Os ataques mostram como o sistema de comunicação eletrônica do governo segue vulnerável, um ano após a revelação de que o Brasil foi alvo de espionagem americana.

    A atual ação teve início no último dia 19. O ministério não informa o número de afetados, mas o universo potencial é de cerca de 1.500 diplomatas brasileiros no mundo, cifra que pode triplicar se considerados oficiais de chancelaria e funcionários locais das embaixadas.

    Desde então, o Itamaraty distribuiu ao menos duas circulares a seus funcionários.

    "No dia 19 de maio corrente, teve início uma série de ataques ao correio institucional @itamaraty.gov.br, por meio de envio de anexos maliciosos, disfarçados de comunicações ou mensagens oficiais ('criptografia do correio institucional' e 'investigação ataque embaixada brasileira em Berlim'), que lograram capturar número ainda indeterminado de contas individuais", diz um comunicado obtido pela Folha.

    PESCARIA

    A metodologia, conhecida como "phishing", é das mais conhecidas. Consiste em envio de e-mails falsos, mas disfarçados com remetentes conhecidos e conteúdos com aspecto de verdadeiros.

    No ataque, houve menção ao ato de vandalismo sofrido pela representação brasileira na Alemanha no último dia 12 em protesto contra os gastos com a Copa do Mundo.

    Quando o anexo é aberto, a senha do e-mail é capturada. "Tendo capturado algumas contas individuais, é provável que as tentativas de ataque perdurem por algum tempo", prossegue o comunicado interno do Itamaraty.

    Foi pedido a todos os funcionários que alterem suas senhas, configurem seus e-mails para bloquear spams e estejam alertas a mensagens suspeitas.

    "Um dos temores é que estejamos diante de um novo WikiLeaks", disse um diplomata, em referência à organização que publicou na internet documentos diplomáticos americanos, em 2010.

    O sistema informático do Itamaraty é considerado precário por muitos diplomatas.

    Em julho de 2012, a pasta anunciou o objetivo de trocar o sistema de envio de dados sigilosos para evitar hackers.

    A troca de documentos entre Brasília e os postos no exterior ainda é feita por internet pública. Para evitar vulnerabilidade, a intenção era passar a usar rede de satélites, como fazem, por exemplo, EUA e França. Mas o sistema não mudou.

    Colaboraram SEVERINO MOTTA e NATUZA NERY, de Brasília

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