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    Nigerianas serão deportadas apesar de risco de mutilação genital

    KEVIN RAWLINSON
    DO "GUARDIAN"

    29/05/2014 11h15

    Uma mãe que pediu asilo temendo que suas filhas possam ser mutiladas caso elas sejam enviadas de volta à Nigéria deve ser deportada, depois de ter sido detida na quarta-feira, informaram seus defensores.

    Afusat Saliu, 31, e suas duas filhas, Basirat, 3, e Rashidat, 1, foram detidas por funcionários da Secretaria do Interior britânica e transportadas de sua casa em Leeds para Londres, de onde serão deportadas, informou a advogada da família ao "Guardian".

    Saliu, 31, vítima de mutilação genital feminina, disse temer que suas filhas sejam igualmente mutiladas e falou de seu medo de que, como cristãs, elas se tornem alvos do grupo extremista islâmico nigeriano Boko Haram, que recentemente sequestrou mais de 200 meninas de uma escola nigeriana.

    Uma petição apelando à Secretaria do Interior que reconsidere seu caso foi assinada por mais de 120 mil pessoas.

    Bhumika Parmar, do escritório BP Legal, a advogada de Saliu, disse que sua cliente havia solicitado permissão para uma revisão judicial e que ela esperava que a deportação seja suspensa enquanto o pedido é considerado.

    Mas Parmar informou que funcionários da Secretaria do Interior não haviam nem mesmo informado a ela sobre a detenção de sua cliente e que haviam se recusado a dizer para onde ela estava sendo levada na quarta-feira.

    A advogada disse que só descobriu que a família estava sendo detida quando uma amiga de Saliu fez contato com ela. Parmar descobriu, por fim, que Saliu e as filhas estavam sendo transportadas de carro a Londres, na noite da quarta-feira, mas só o fez depois que ela já tinha partido.

    Parmar também acusou a Secretaria do Interior de desrespeitar seus próprios regulamentos ao não informar Saliu com 72 horas de antecedência sobre sua remoção.

    "O tratamento dela foi muito injusto", ela disse, acrescentando estar preocupada com que o poderia ter acontecido a Saliu caso sua amiga não tivesse contatado os advogados em tempo.

    "O fato de que a Secretaria do Interior não tenha me procurado para informar onde ela está significa que não pude solicitar fiança", ela disse.

    Em carta a funcionários da secretaria enviada em um esforço para determinar o paradeiro de sua cliente na tarde de quarta-feira, ela disse que Afusat e as filhas estavam sendo deportadas antes que seu bem-estar e direito a uma audiência justa fossem devidamente considerados.

    Ela ameaçou um processo contra a Secretaria do Interior solicitando indenização, caso a remoção não seja postergada até que todas as normas legais possam ser cumpridas.

    Ela escreveu: "Vocês claramente violaram suas próprias normas. Além disso, não declararam que nossa cliente receberá a proteção requerida em Lagos, especialmente à luz do interesse público por seu caso. Vocês não levaram em conta que nossa cliente não tem meios de assistência caso seja repatriada, especialmente com duas crianças ainda pequenas. O que está proposto para abrigar e sustentar essa família quando elas chegarem a Lagos?"

    Anj Handa, amiga de Saliu que criou a petição em favor dela no site Change.com, disse que "pedimos a eles que fizessem isso da maneira correta. Mas parece que estão determinados a se livrar dela a qualquer custo antes que possamos colocar a campanha em ação. O momento político é desfavorável porque a Secretaria do Interior deseja mostrar que é dura nas questões de imigração".

    Ela disse que não desejava que sua amiga se tornasse vítima de "poses políticas".

    A Nigéria abriga o maior número de mulheres vítimas de mutilação genital no planeta, e Saliu disse que sua família não deseja submeter suas filhas a isso.

    Em abril, depois de ter sua deportação temporariamente adiada com a ajuda de George Muddle, o parlamentar do distrito em que vive, ela disse que não o permitiria.

    "Não quero que elas sejam mutiladas. Sei que isso acontecerá se eu voltar para lá com elas. Sei porque essa é a cultura de minha família", ela disse, acrescentando que "eles acreditam nisso e eu não poderei fazer coisa alguma a respeito. Toda mulher deve defender seus filhos, e fazer todo o necessário para protegê-los contra algo assim".

    Ela chegou ao Reino Unido em 2011, e diz ter fugido da Nigéria quando sua mãe adotiva a informou de que sua filha mais velha, Bassy, seria mutilada. A filha mais nova de Saliu nasceu no Reino Unido. A Secretaria do Interior declarou que não comenta sobre casos específicos.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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