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    Missão da ONU no Haiti enfrenta pressões

    RENATO MACHADO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO HAITI

    31/05/2014 02h00

    A missão da ONU no Haiti (Minustah), comandada militarmente pelo Brasil desde seu início, completa neste domingo (1º) dez anos enfrentando a maior pressão internacional para seu término.

    Países ricos avaliam que os esforços e recursos empregados na nação caribenha já foram excessivos e que agora é o momento de mudar o foco.

    A Minustah começou três meses após a turbulência que resultou na queda do presidente Jean-Bertrand Aristide. Generais brasileiros estiveram no comando da parte militar em toda a sua história.

    O Brasil também sempre teve o maior contingente das tropas e respondeu pelas áreas mais importantes na capital, Porto Príncipe, e no seu entorno. Hoje, há 1.200 militares brasileiros no país.

    Hoje, parte da comunidade internacional questiona os custos e benefícios de manter missão militar no Haiti –pacificado, mas considerado instável por causa da frágil situação econômica e política.

    Fontes no setor político da Minustah apontam que países com assento permanente no Conselho de Segurança pressionam para fortalecer outras missões da ONU –na Líbia, na República Centro-Africana e no Sudão do Sul.

    A avaliação é que os novos gastos militares só podem ser bancados eliminando outras fontes de dispêndio. As missões escolhidas para serem reduzidas são as de Haiti, Libéria e Costa do Marfim.

    Já há exemplos da mudança de prioridades. A Companhia de Engenharia Militar da Indonésia, que atuava até o mês passado em Gonaîves (Haiti), irá para a República Centro-Africana nos próximos dias. Tropas de países como o Paraguai devem fazer o mesmo no segundo semestre.

    "Houve muito progresso em relação à segurança e à estabilidade no Haiti. O Conselho de Segurança, ao decidir sobre o futuro da Minustah, também teria de levar em conta as demandas por missões de paz que estão sendo tratadas na ONU", afirma Sandra Honoré, representante especial do secretário-geral da ONU, maior autoridade da organização no Haiti.

    Honoré ressalta, no entanto, que a fase de "consolidação" da missão no Haiti já havia começado nos meses finais de 2012, quando teve início a retirada do efetivo militar, em razão dos avanços conquistados pela Minustah.

    TRANSIÇÃO

    O futuro da missão vai ser decidido em outubro deste ano, quando o Conselho de Segurança discutirá a renovação do mandato da missão e os "planos estratégicos".

    Há propostas de manutenção apenas de missões de aconselhamento ao governo e de ajuda no diálogo nacional e outras que mantêm algum tipo de presença militar.

    O plano foi elaborado inicialmente para o período após janeiro de 2016 –o marco é a posse do futuro presidente haitiano, pois haverá eleições em outubro de 2015.

    No entanto, a Folha apurou que países como EUA, França, Reino Unido e Austrália solicitaram estudos para uma "transição acelerada", já a partir de outubro.

    Os países diretamente ligados à Minustah –como Brasil, Argentina e Chile– defendem mais cautela para a retirada das tropas. "A missão militar não deve se perpetuar, mas é preciso uma retirada de maneira consciente e bem planejada", diz o embaixador brasileiro no Haiti, José Luiz Machado e Costa. "Se nos precipitarmos, corremos o risco de a comunidade internacional fracassar e precisar voltar num futuro próximo."

    Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

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