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    China aumenta repressão na véspera dos 25 anos de massacre em Pequim

    MARCELO NINIO
    DE PEQUIM

    02/06/2014 17h24

    Na véspera do aniversário de 25 anos do massacre da Praça da Paz Celestial –um evento apagado da memória coletiva pela censura oficial– o governo chinês aumentou a repressão para evitar que a data seja lembrada.

    Mais de 50 pessoas foram presas nas últimas semanas, entre ativistas, advogados, jornalistas e parentes de manifestantes mortos quando o Exército abriu fogo para acabar com os protestos estudantis de 1989.
    Além disso, pelo menos 12 correspondentes estrangeiros baseados na China foram interrogados pela polícia após fazer entrevistas sobre o aniversário do massacre nesta quarta, 4 de junho.

    Alguns prestaram depoimentos gravados em vídeo e foram alertados de que sofreriam "sérias consequências" caso desrespeitem as regras para o trabalho de jornalistas estrangeiros.

    Na noite de domingo, o artista sino-australiano Guo Jian foi detido em sua casa, em Pequim. Um dia antes, o jornal "Financial Times" havia publicado uma longa entrevista com ele, que não poupou críticas ao governo. O artista é um ex-soldado do Exército chinês e fez parte do grupo de estudantes que entrou em greve de fome durante os protestos pró-democracia de 1989.

    "O Exército é considerado uma instituição amável. Mas em Tiananmen [praça da Paz Celestial] eu percebi que não é, ele mata você se receber ordens", disse Guo na entrevista, que segundo amigos do artista foi a causa de sua detenção.

    As semanas que antecedem o 4 de junho, data do massacre, costumam ser de alerta redobrado do governo, mas neste ano a repressão foi intensificada.

    A internet está mais lenta que o habitual e mais páginas têm sido bloqueadas. Segundo o sítio de monitoramento da censura GreatFire.org, os serviços do Google também passaram a ser interrompidos e censurados.

    Vários governos protestaram contra a escalada de repressão do regime chinês. A onda de prisões começou no dia 6 de maio e teve como alvo cinco ativistas de direitos humanos que haviam participado de um encontro para marcar o aniversário.

    "Reiteramos o apelo da UE às autoridades chinesas que respeitem a Declaração Universal de Direitos Humanos e libertem todos os que foram detidos pela expressão pacífica de suas visões", disse a União Europeia em um comunicado.

    IMPRENSA ESTRANGEIRA

    Em relatório divulgado nesta segunda (2), o clube dos correspondentes estrangeiros na China (FCCC, como é conhecido na sigla em inglês), destaca o aumento das restrições ao trabalho da imprensa no último ano, o primeiro do governo de Xi Jinping.

    Na sondagem realizada entre os correspondentes, 80% afirmaram que as condições pioraram desde a posse de Xi, em março de 2013.

    "Lamentavelmente o governo chinês continua a assediar e intimidar a mídia estrangeira e seu staff local, num aparente esforço de moldar a cobertura de imprensa", afirma o FCCC.

    Aumentou também a vigilância em torno das famílias de vítimas do massacre da Praça da Paz Celestial.

    Segundo a organização Direitos Humanos na China, Ding Zilin, fundadora do grupo Mães de Tiananmen, foi impedida de entrar em Pequim. Será a primeira vez que ela e o marido deixarão de comparecer no 4 de junho ao memorial que mantêm para o filho de 17 anos, morto a tiros em 1989.

    A segurança em Pequim foi reforçada de forma significativa nas últimas semanas, com blindados e soldados posicionados em pontos estratégicos da capital.

    O governo diz que é uma resposta às ações terroristas dos últimos meses, que deixaram dezenas de mortos.

    As autoridades os atribuíram a separatistas muçulmanos da etnia uigur, que se concentra na turbulenta província de Xinjiang, no noroeste do país.

    A agência de notícias oficial Xinhua informou nesta terça que oito uigures foram indiciados pelo ataque que deixou cinco mortos em outubro do ano passado, quando um carro invadiu uma área de pedestres na praça da Paz Celestial.

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