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    Sargento no Afeganistão já havia abandonado seu posto anteriormente, diz relatório

    ISABEL FLECK
    DE NOVA YORK
    DE SÃO PAULO

    05/06/2014 13h21

    Um relatório militar secreto detalhando a investigação do Exército sobre o desaparecimento do sargento Bowe Bergdahl de junho de 2009 diz que o sargento já havia abandonado seu posto anteriormente tanto na Califórnia (durante o treinamento), quanto no Afeganistão, segundo o jornal "New York Times".

    O relatório de 35 páginas concluído dois meses após o sargento ter deixado sua unidade mostra que provavelmente ele se afastou por vontade própria de seu posto durante a noite.

    O texto critica as práticas de segurança negligentes e a má disciplina dentro da unidade.

    Todavia não existe evidência sólida de que o sargento Bergdahl tinha intenção de abandonar permanentemente o seu posto.

    OBAMA

    Ao ser novamente questionado sobre o polêmico acordo com o Taleban que levou à libertação do sargento Bergdahl, o presidente Barack Obama disse nesta quinta-feira (5) que não se desculpará "de forma alguma" por sua decisão.

    Desde que Bergdahl foi solto, no último sábado, o governo americano vem enfrentando duras críticas da oposição pelos riscos assumidos na manobra –a libertação de cinco presos de Guantánamo em troca do militar americano– e de que os esforços terem sido feitos para resgatar um possível desertor. O sargento ficou por quase cinco anos sob o poder do Taleban no Afeganistão.

    "Eu não me desculparei de forma alguma por trazer de volta um jovem para seus pais e por fazer o povo americano entender que ele é filho de alguém e que não vamos impor condições para resgatá-los [os soldados]", disse Obama, em coletiva de imprensa em Bruxelas, ao lado do premiê britânico, David Cameron.

    O presidente disse se sentir "responsável por esses garotos" que são mandados em combate, e reforçou que a Casa Branca estava "profundamente preocupada" com a saúde de Bergdahl.

    "Eu escrevo muitas cartas para pessoas que, infelizmente, não vão mais ver seus filhos depois de lutar uma guerra", disse. "Você tinha um pai e uma mãe cujo filho se voluntariou para lutar em uma terra distante, que eles não viam por cinco anos e não tinham certeza se poderiam vê-lo de novo."

    Obama ainda defendeu o fato de não ter notificado o Congresso sobre a troca de prisioneiros com 30 dias de antecedência. Segundo ele, a possibilidade de que isso ocorresse já vinha sendo tratada com os parlamentares há algum tempo.

    "Por causa do tipo de caras com quem estávamos negociando e da natureza frágil dessas negociações, sentimos que era importante ir em frente e fazer o que fizemos", disse.

    Na última quarta-feira, integrantes da Casa Branca se reuniram com senadores em Washington para explicar os detalhes da negociação com o Taleban e tentar convencê-los de que a ação era necessária.

    Segundo o "New York Times", altos funcionários de defesa e inteligência e diplomatas mostraram aos parlamentares um vídeo confidencial de 90 segundos, obtido em janeiro, que mostraria a situação deteriorada da saúde do sargento.

    DESCONFIANÇA

    Republicanos e, inclusive, democratas, não teriam saído convencidos do encontro, contudo.

    A senadora republicana Kelly Ayotte, de New Hampshire, disse ainda temer pela decisão de libertar os cinco prisioneiros de Guantánamo. "Não estou satisfeita com a habilidade [do governo] em evitar que eles não se reengajarão no combate [terrorista]. Isso é o que nos preocupa mais", afirmou, após a sessão, ao "NYT".

    Entre os cinco prisioneiros de Guantánamo libertados na troca, estão Khairullah Khairkhwa, que seria um dos fundadores do Taleban e foi próximo a Osama bin Laden, e Abdul Haq Wasiq, que chegou a ser o número dois da inteligência do regime taleban.

    O senador democrata Joe Manchin III, da Virgínia Ocidental, disse que a reunião deixou mais perguntas que respostas. "Acho que todos podemos concordar que não estávamos lidando com um herói de guerra aqui", disse.

    Militares que serviram com Bergdahl o acusam de ter cometido um ato "egoísta", que custou a vida de outros soldados, em sua busca. Pelo menos seis soldados teriam morrido em missões de busca por Bergdahl, segundo a CNN.

    ESTADO DE SAÚDE

    De acordo com o porta-voz do Pentágono, o vice-coronel Steve Warren, Bergdahl, que está internado no hospital militar de Landstuhl (Alemanha), está melhorando a cada dia, descansando e conversando com os membros da equipe de reintegração em Inglês.

    No entanto, Bergdahl ainda não falou com seus pais, apesar de já terem se passado 72 horas após a libertação, período exigido para que os prisioneiros de guerra possam se expor ao mundo exterior.

    POLÍTICOS RETIRAM APOIO

    Ao menos sete políticos apagaram seus tuítes nos quais elogiavam Bergdahl. As mensagens podem ser recuperadas em sites como o Politwoop, que divulga os tuítes publicados e depois eliminados pelos políticos.

    "Bem-vindo à casa, sargento Bowe Bergdahl. Os Estados Unidos lhe agradecem por seu serviço", escreveu o senador republicano Thad Cochran em um tuíte que foi apagado na quarta-feira, de acordo com o Politwoops. Cochran condenou a troca de prisioneiros como um grave erro.

    O congressista republicano Jim Renacci classificou nesta semana Bergdahl de "verdadeiro herói americano", em um tuíte que foi apagado posteriormente.

    Já o democrata Stephen Lynch expressou no Twitter sua alegria por saber da libertação de Bergdahl, mas a mensagem também desapareceu.

    A destruição destas mensagens reflete a preocupação crescente pela possibilidade de que os comandantes talebans libertados possam voltar a se unir à luta, e a raiva pela forma como o governo Obama negociou o acordo.

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