• Mundo

    Wednesday, 26-Jun-2024 04:06:25 -03

    Vice-presidente da Argentina presta depoimento

    FELIPE GUTIERREZ
    DE BUENOS AIRES

    09/06/2014 11h46

    O vice-presidente argentino, Amado Boudou, passou a segunda (9) tentando convencer o juiz Ariel Lijo de que não praticou tráfico de influência a favor da empresa gráfica Ciccone.

    Da cota pessoal da presidente Cristina Kirchner, Boudou é o primeiro vice que é suspeito em um processo criminal desde a volta da democracia, em 1983.

    O caso traz mais desgaste a Cristina, num momento de crise econômica e baixa popularidade.

    David Fernández/Efe
    O vice-presidente argentino, Amado Boudou, na chegada a um tribunal de Buenos Aires
    O vice-presidente argentino, Amado Boudou, na chegada a um tribunal de Buenos Aires

    Pouco antes da sessão, o vice disse que iria responder às perguntas do juiz –especulava-se que fosse ficar calado– e que estava tranquilo. "Vale a pena enfrentar essa luta", afirmou.

    Ao chegar à região do tribunal, foi recebido por cerca de cem militantes que o apoiavam. Já dentro do edifício, ouviu gritos de "ladrão".

    Boudou entrou no prédio da Justiça às 11h e saiu às 20h25. Na saída, disse que escreveria uma declaração "sem intermediação" em sua página no Facebook.

    Ele contou que, durante o depoimento, "tudo que aconteceu foi relacionado a questões técnicas", sem entrar em detalhes.

    Editoria de Arte/Folhapress

    ACUSAÇÃO

    A suspeita é que o vice, quando era ministro da Fazenda em 2010, tenha ajudado a Ciccone a não falir e, depois, a fechar contrato para imprimir notas de dinheiro para o governo.

    Enquanto isso acontecia, em outra frente, a Ciccone era adquirida pelo fundo de investimentos The Old Fund.

    Em 2012, uma briga conjugal disparou o escândalo: a ex-mulher do diretor-executivo do Old Fund afirmou que o ex-marido, Alejandro Vandenbroele, era um testa de ferro do vice. Ele negou ter relação com o Executivo.

    No entanto, Vandenbroele teria recebido contas em um apartamento que estava no nome de Boudou, segundo a imprensa argentina. E a namorada, amigos e parentes do vice teriam viajado às custas do Old Fund.

    O antigo dono da gráfica, Nicolas Ciccone, também diz que Boudou o pressionou a vendê-la ao fundo. Ele nega.

    Inicialmente, o depoimento estava marcado para 15 de julho –data em que Boudou deverá estar no exercício da Presidência, pois Cristina está com viagem marcada para a cúpula dos Brics, no Brasil, a convite da Rússia.

    O próprio vice pediu para antecipar seu depoimento.

    O político queria que sua fala fosse transmitida ao vivo ou gravada em vídeo –o juiz negou, pois isso poderia interferir nas audiências dos outros imputados.

    O caso está em fase de instrução. Nos próximos dias, outros envolvidos serão ouvidos. O juiz poderá processar formalmente os acusados ou inocentá-los ou pedir mais investigações.

    Ele tem dez dias para decidir o que fazer, mas, diz a professora da Universidade de Buenos Aires Lucila Larrandart, "esse prazo não costuma ser respeitado".

    Ela estima que, caso as decisões sejam todas desfavoráveis ao político, ele poderá ser condenado dentro de um prazo de dois anos.

    Uma fonte próxima a um dos acusados afirma que "a chance de Boudou ser processado é muito alta, pois a resolução [para chamar a depor] é muito contundente".

    PESQUISA

    O jornal "Clarín" publicou no domingo (8) uma pesquisa sobre o que os argentinos pensam que o vice-presidente deveria fazer. Para 42,5% deles, Amadou Boudou deveria renunciar e 11,1% dizem que ele precisa pedir licença. Os que declararam que ele deve permanecer no cargo enquanto o caso é investigado são 21,5%. O restante não soube responder.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024