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    Em livro, Hillary critica acordo nuclear entre Brasil e Irã

    RAUL JUSTE LORES
    DE WASHINGTON

    10/06/2014 08h18 - Atualizado às 23h37

    Em seu livro de memórias lançado nesta terça-feira (10), a ex-secretária de Estado e ex-primeira-dama dos EUA, Hillary Clinton, classifica de "profundamente equivocado" o acordo nuclear de 2010 entre Brasil, Turquia e Irã.

    Para Hillary, o acordo surgiu quando os EUA estavam "perto de convencer China e Rússia de aprovar as sanções mais duras [contra o programa nuclear iraniano] na história". Segundo ela, o Irã se valeu das "boas intenções" do Brasil para ganhar tempo.

    Firmado ainda nas gestões dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Mahmoud Ahmadinejad (Irã), o acordo previa que Teerã enviasse 1.200 kg de seu urânio pouco enriquecido à vizinha Turquia, para em um ano receber de volta 120 kg do material processado a 20% para uso em pesquisa médica.

    Os EUA, que acusavam o Irã de enriquecer urânio visando obter a bomba atômica (o que Teerã sempre negou), rejeitaram o pacto, apesar de ele seguir ponto a ponto os pedidos do presidente Barack Obama numa carta enviada a Lula em abril, como revelou a Folha.

    Um dia depois da assinatura do acordo, os americanos levaram ao Conselho de Segurança da ONU uma proposta de novas sanções ao país.

    "O acordo não levava em conta que o Irã continuara a enriquecer urânio por vários meses desde a proposta inicial", escreve Hillary no livro recém-lançado, "Hard Choices" ("escolhas difíceis", em tradução livre). "Os iranianos reteriam a propriedade do urânio a ser enviado ao exterior, com direito de retomá-lo a qualquer hora."

    "Mais problemático ainda", prossegue a ex-secretária de Estado, "era o fato de que o Irã continuava a proclamar seu direito de enriquecer urânio a níveis mais altos, e não havia nada no novo acordo que os parasse ou mesmo indicasse que isso deveria ser discutido pela Agência Internacional de Energia Atômica ou pelo P5+1 [grupo de países que negociavam com o Irã]."

    Hillary afirma que visitou Lula e falou com o então ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, para tentar demovê-los do pacto. A polêmica é descrita em oito páginas do livro.

    Recentemente, já com Hasan Rowhani na Presidência, o Irã fechou um acordo nuclear provisório com os EUA e outros países do Ocidente.

    ELOGIOS A DILMA

    Nas memórias, a ex-chefe da diplomacia americana faz elogios à atual presidente brasileira, Dilma Rousseff: "formidável líder, que admiro", de "intelecto forte e verdadeira determinação".

    Hillary lembra que esteve na posse de Dilma, em 2011, e diz que ela mostrou "fibra" ao responder aos protestos de junho de 2013 no Brasil, "encontrando-se com os manifestantes, reconhecendo suas preocupações", sem "mandar bater e encarcerá-los, como muitos outros países fazem, incluindo a Venezuela".

    A ex-secretária de Estado dedica à América Latina um capítulo de 23 páginas, chamado "Democratas e demagogos", em que afirma que a região se tornou "uma vitrine do poder de lideranças femininas" e chama o venezuelano Hugo Chávez (1954-2013) de "ditador exibicionista".

    O livro, de 600 páginas, é considerado peça da campanha de Hillary rumo à Casa Branca em 2016. Ela é favorita nas pesquisas para suceder a Barack Obama, seu colega no Partido Democrata.

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