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    Presidente egípcio age para combater crimes sexuais

    PATRICK KINGSLEY
    DO "GUARDIAN", NO CAIRO

    11/06/2014 18h59

    O novo presidente do Egito posou para fotos ao lado do leito de uma das diversas mulheres hospitalizadas como resultado de ataques sexuais em massa durante um comício para celebrar sua posse, no domingo, em um esforço para demonstrar sua disposição de enfrentar a epidemia de violência sexual no país.

    Abdel Fattah al-Sisi, ex-comandante do exército egípcio, logo depois de visitar o hospital criou um comitê de alto nível cuja tarefa será combater os crimes sexuais –decisão surgida 24 horas depois de ele ter ordenado aos comandantes da polícia egípcia que tratem o policiamento da violência sexual como prioridade.

    Desde que surgiram vídeos sobre uma das agressões do domingo, o Egito se viu apanhado em um furioso debate sobre violência e assédio sexual –o assédio foi proibido no Egito pela primeira vez por um decreto assinado quinta-feira passada.

    A intervenção positiva de Sisi no debate contrasta acentuadamente com seus comentários como comandante do Exército, em 2012, quando defendeu a proposta de que mulheres detidas pelos soldados em manifestações fossem forçadas a passar por testes de virgindade.

    Presidência do Egito/Efe
    Foto oficial mostra presidetne egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, visitando vítima de agressão sexual em hospital
    Foto oficial mostra presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, visitando vítima de agressão sexual em hospital

    Em declaração divulgada nesta quarta (11), Sisi afirmou que "nossa honra está sendo atacada nas ruas. Isso é inaceitável, e não podemos permitir que nem mesmo um incidente como esse volte a acontecer".

    Mas outras intervenções de instituições do Estado, também anunciadas recentemente, expuseram as forças culturais que agravaram os crimes sexuais no passado. O Conselho Nacional da Mulher (CNM), um órgão estatal egípcio, anunciou planos de processar a rede de TV al-Jazeera por esta ter reportado os ataques, e declarou que as reportagens tinham motivação política e pretendiam macular a reputação de Sisi e a das mulheres egípcias.

    A al-Jazeera, de acordo com Mervat el-Tellawy, presidente do CNM, reportou sobre "o recente incidente de assédio e estupro para macular a imagem das mulheres egípcias". Em declaração anterior, o CNM condenou os ataques como "brutais", mas implicou que haviam sido realizados por oponentes de Sisi, membros da Irmandade Muçulmana, e não que fossem resultado natural do fracasso de toda a sociedade em encarar com seriedade a questão do assédio.

    As agressões, afirmou o CNM, são "crimes politicamente orientados", com o objetivo de "matar a alegria [das mulheres] quanto ao sucesso da plano de rota", uma referência ao processo político que conduziu Sisi ao poder.

    De sua parte, a ala política da Irmandade Muçulmana também tentou explorar os ataques politicamente, alegando que eles foram causados pelo declínio moral causado pela derrubada de Mohamed Mursi, integrante do partido, removido da Presidência em um golpe liderado por Sisi.

    Mas pesquisas da ONU concluídas antes da derrubada de Mursi mostram que a violência e o assédio sexual há muito afetam todas as porções da sociedade egípcia, e levantamentos indicam que mais de 99% das mulheres egípcias já sofreram assédio público. Um grupo de 25 organizações de defesa dos direitos humanos afirmou esta semana ter documentado pelo menos 250 agressões sexuais em comícios de massa na praça Tahrir desde o levante de 2011 –o que inclui 80 em um só dia, em junho de 2013.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI.

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