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    Análise: Tarefa de refazer a ponte entre Casa Branca e Planalto deverá ser árdua

    MATIAS SPEKTOR
    COLUNISTA DA FOLHA

    18/06/2014 02h33

    Vem aí uma grande mexida de postos na diplomacia brasileira. O motivo é a mudança de comando na principal peça do xadrez: a embaixada em Washington.

    Quem pegar o cargo terá de implementar a restauração das relações que Joe Biden veio combinar.

    Essa reaproximação é desejada com intensidade similar por Dilma e Aécio. Ambos entendem que o estado da relação bilateral faz mal ao Brasil e fará muito mal ao governo empossado em janeiro.

    No entanto, a tarefa de construir entendimento político de primeiro nível entre Casa Branca e Planalto será árdua. Nos principais temas da agenda, os dois países discordam ou têm interesses conflitantes. Além disso, Obama e o próximo presidente do Brasil terão pouco espaço de manobra para grandes concessões.

    Nesse ambiente, a busca de uma saída honrosa para a crise da espionagem é o menor dos problemas. Diante do desafio, qual o perfil ideal para chefiar a embaixada? A história recente sugere três elementos essenciais.

    O próximo embaixador tem de ser visto pelos americanos como um interlocutor privilegiado do Palácio do Planalto. Ele precisará mostrar que goza de alguma independência de seu chefe imediato, o ministro das Relações Exteriores.

    Sem isso, a embaixada será vista como entreposto a ser evitado, não como alavanca a ser aproveitada para o projeto da restauração.

    "O que mais importa", revela um velho assessor da Casa Branca, "é saber se a pessoa terá autoridade para telefonar à Presidência e resolver o problema antes de o vazamento chegar à imprensa."

    Trata-se de uma expectativa ambiciosa, porque acesso pessoal ao gabinete presidencial é um dos bens mais escassos da Esplanada dos Ministérios. Mas é possível –já tivemos isso no passado.

    O embaixador em Washington também precisará de carta branca para falar com a imprensa norte-americana. Para reverter as atitudes negativas que ainda reverberam, precisará pautá-la o tempo inteiro.

    Por fim, terá de construir uma rede de relacionamentos no Congresso Nacional, em Brasília, e nas redações de jornal em São Paulo e Rio de Janeiro.

    Trata-se de escudo para protegê-lo das pressões contrárias que sofrerá daqueles que, no governo e na oposição, preferem manter os Estados Unidos à distância.

    O próximo embaixador pode ser extrovertido ou reservado, barulhento ou discreto. Só não poderá deixar de ser um animal político.

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