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    Governo chinês endurece restrições à liberdade de imprensa

    MICHAEL FORSYTHE
    DO "NEW YORK TIMES", EM HONG KONG

    20/06/2014 13h37

    A China impôs novas restrições a artigos noticiosos "críticos" e proibiu jornalistas chineses de trabalharem fora de suas áreas de especialização ou regiões geográficas, com isso impondo mais limitações a repórteres em um dos ambientes de imprensa mais controlados do mundo.

    Pelas novas regras anunciadas na quarta-feira pela Administração Estatal da Imprensa, Publicação, Rádio, Cinema e Televisão, a partir de agora os repórteres na China terão que pedir permissão a seus empregadores antes de fazer "reportagens críticas" e serão proibidos de criar seus próprios sites na internet.

    Em comunicado divulgado em seu site, a agência estatal disse que as regras foram adotadas após uma série de casos envolvendo erros de conduta, incluindo extorsão, cometidos por jornalistas. Mas jornalistas e defensores dos direitos disseram que as normas podem ter um efeito fortemente negativo sobre o trabalho da imprensa na China, país que já figura em 173º lugar entre 179 países no índice de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras.

    Mas, não obstante as restrições impostas a jornalistas, jornais e revistas como a "Southern Weekend" e a "Caixin" frequentemente publicam artigos investigativos críticos expondo problemas sociais e casos de corrupção. A "Caixin", por exemplo, lançou desde o final do ano passado uma série de reportagens sobre os interesses comerciais da família do ex-chefe de segurança Zhou Yongkang.

    Esse tipo de trabalho de reportagem pode ser dificultado pelas novas normas, disse Ji Shuoming, jornalista chinês hoje residente em Hong Kong, acrescentando que jornalistas investigativos que vão fundo em suas pesquisas terão dificuldade em escrever reportagens sem aventurar-se fora de sua região ou área de especialização. Isso os colocará em risco, segundo ele, se o trabalho deles desagradar às autoridades.

    "Agora que criaram esta regra, se não gostarem de algo que você escreveu, podem dizer que você infringiu as regras", disse Ji, que este ano escreveu uma reportagem investigativa sobre os interesses comerciais de Li Xiaolin, filha do ex-primeiro-ministro Li Peng.

    As novas regras foram anunciadas em meio ao aumento de limitações à expressão adotadas após a chegada de Xi Jinping aos cargos mais altos da liderança chinesa, em novembro de 2012. Vários bloggers destacados foram detidos no ano passado, depois de serem criadas novas restrições à publicação de "rumores". Ativistas que reivindicaram que políticos e autoridades tenham que declarar seus bens foram presos.

    Sophie Richardson, diretora para a China da organização Human Rights Watch, disse que, com a grave poluição do ar, solo e água na China, seus problemas com a segurança alimentar e a corrupção oficial ampla, o jornalismo de alta qualidade é mais necessário que nunca.

    "Qual problema de saúde pública, desastre ambiental ou produto tóxico vai deixar de ser levado a público?", ela perguntou. "Quais serão os casos de corrupção, os protestos ou os processos judiciais dos quais a população não ficará sabendo? Fechar o espaço existente para o jornalismo independente e crítico, que já era limitado, é um erro enorme."

    Tradução de CLARA ALLAIN

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