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    Crises no Oriente Médio fecham rotas de exportação turcas

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

    22/06/2014 03h01

    Os caminhoneiros da Turquia já não sabem mais por onde seguir. As crises políticas nos vizinhos ao sul bloqueiam estradas e ameaçam as vias de exportação.

    O estabelecimento de uma região militante islamita no Iraque, com a queda da cidade de Mossul, interrompeu a rota pela qual a Turquia enviava seus produtos a Bagdá e, mais adiante, ao Kuait e à Arábia Saudita. Cerca de 30 motoristas foram sequestrados pelos islamitas.

    O Iraque é o segundo maior destino das exportações turcas. A Turquia enviou para lá, em 2012, um valor equivalente a US$ 10,8 bilhões, em especial em ferro, aço e maquinário elétrico.

    À Folha, Dursun Topçu, vice-presidente da Câmara de Comércio de Istambul, estimou que pode haver uma perda de até 50% desse valor caso a crise iraquiana perdure.

    Güven Sak, vice-reitor da Universidade de Economia e Tecnologia TOBB, afirma que o comércio entre Bagdá e Ancara já fora prejudicado pelas intervenções americanas nas últimas décadas, quando "o Iraque se tornou um Estado pária". A situação havia, porém, se revertido.

    Sak nota que, com grande parte da exportação turca passando por territórios em conflito, a política externa do premiê Recep Tayyip Erdogan -baseada no princípio de "problema zero com países vizinhos"- tem menos a ver com a simpatia do que com estabelecer rotas comerciais na região.

    NA ESTRADA
    O principal parceiro comercial da Turquia é a Alemanha. Mas o país exporta também importante parte de sua produção para Arábia Saudita e Emirados Árabes, destinos que dependem das estradas ligando a região de Gaziantep à Síria e ao Iraque.

    Os caminhões originalmente saíam de Gaziantep e passavam por Aleppo, na Síria, rumo à Jordânia e à Arábia Saudita (veja mapa ao lado). A insurgência e o conflito sírios, a partir de 2011, bloquearam estradas.

    A alternativa sairia de Habur, na Turquia, e passaria por Bagdá, Kuait e Arábia Saudita. O caminho atravessaria, porém, Mossul -tomada por islamitas.

    Mesmo a passagem pelo mar Mediterrâneo, cruzando o canal de Suez, no Egito, deixou de ser viável. Os tumultos dos últimos anos fizeram do deserto do Sinai e de Port Said trechos instáveis.

    O economista Sak nota que a melhor opção, hoje, é enviar produtos ao porto israelense de Haifa e dali transportar à Jordânia e, então, à Arábia Saudita, em uma complicada logística. A monarquia saudita, no entanto, é desafeto de Israel.

    Tezer Palacioglu, vice-secretário-geral da Câmara de Comércio de Istambul, nota que não há soluções para o problema. "Não podemos mudar nosso país de lugar." Mas ele também vê na crise uma oportunidade. "Os países ao redor precisam de produtos, e ninguém além da Turquia pode provê-los. A guerra no Iraque pode criar, também, mercados."

    O jornalista DIOGO BERCITO viajou a convite do governo da Turquia

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