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    Festival de culinária canina é alvo de protestos no sul da China

    JONATHAN KAIMAN
    DO "GUARDIAN"

    23/06/2014 11h09

    Uma cidade do sul da China abriu seu festival anual de culinária canina no final de semana, em meio a ferozes reações negativas de internautas e grupos de defensores dos direitos dos animais.

    Os ativistas estimam que cerca de 10 mil cachorros sejam abatidos durante o evento, realizado no solstício do verão. Milhares de moradores locais e turistas comem carne de cachorro grelhada, assada e frita, servida em companhia de lechias e de álcool de cereais.

    Este ano, campanhas virais nas mídias sociais e uma presença vigorosa ainda que pequena de um grupo dedicado de ativistas dos direitos dos animais amorteceram o impacto das festividades em Yulin, na província de Guangxi.

    O governo local proibiu seus funcionários de participar oficialmente do evento, de acordo com Carrot Chen, porta-voz da Animals Asia, uma ONG sediada em Hong Kong. A venda de carne de cachorro caiu em um terço com relação ao ano passado, segundo a mídia chinesa.

    "Meu avô, meu pai e eu todos vendemos carne de cachorro. No ano passado, nessa época, vendíamos dezenas de cachorros ao dia, mas este ano só vendi alguns poucos", disse o comerciante Zhou Jian, 55, ao jornal "China Daily".

    Embora as reportagens na mídia chinesa contassem apenas algumas poucas dezenas de ativistas no festival, sua presença resultou em algumas cenas dramáticas. Um comerciante ergueu um cachorro pelo nariz, ameaçando matá-lo a não ser que os ativistas pagassem um resgate exorbitante.

    Um freguês em um restaurante saiu machucado de uma briga com um ativista em uma rua repleta de restaurantes. Budistas devotos de toda a China percorreram o mercado de Dongkou, na cidade, executando um ritual religioso para "consolar as almas dos cachorros abatidos".

    Muitos moradores locais se ressentem dessa reação adversa como uma postura moral injustificada contra uma tradição que tem raízes profundas e é considerada como tecnicamente legal.

    Eles alegam que comer carne de cachorro no solstício de verão confere benefícios de saúde que duram por todo o inverno subsequente. Alguns realizaram o evento mais cedo, a fim de evitar os protestos em defesa dos direitos animais que já eram previstos.

    Grupos de defesa dos direitos dos animais dizem que o comércio de carne de cachorro é cruel e viola as normas sanitárias.

    "É uma atividade caracterizada pela criminalidade, crueldade e higiene deficiente", disse Jill Robinson, presidente da Animals Asia. "Cachorros são roubados de seus donos - muitas vezes em plena rua, depois de serem atacados com dardos anestésicos. E esses venenos chegam aos pratos consumidos pelos visitantes do festival".

    Embora cachorros sejam considerados uma iguaria em certas porções do sul e do nordeste da China, também se tornaram populares como animais de estimação junto à classe média ascendente do país.

    Os protestos contra o festival ganharam popularidade online. "Os cachorros são mais leais às pessoas do que eu poderia imaginar - penso nos cachorros como amigos, não como carne", escreveu a atriz Yang Mi para os seus 35 milhões de seguidores. A mensagem atraiu mais de 75 mil comentários, a maioria dos quais elogiando-a por se posicionar.

    A agência estatal de notícias Xinhua instou os oponentes do festival a manter a calma e lembrar que os cães eram apreciados por sua carne na China muito antes que passassem a ser considerados amigos.

    "Pode ser difícil traçar uma linha universalmente aceitável quanto a que animais devem e não devem ser comidos. Mas porque já dispomos de uma ampla variedade de carnes, talvez seja hora de parar de servir carne de cachorro", afirmou a agência. "Talvez também seja hora de assumir um tom menos estridente contra os apreciadores da carne de cachorro e de educá-los para que vejam o animal como um companheiro e não como uma refeição".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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