• Mundo

    Tuesday, 30-Apr-2024 12:03:34 -03

    Islândia não renova passaporte de menina de 10 anos por causa do nome

    JON HENLEY
    DO "GUARDIAN"

    27/06/2014 11h59

    Você pode ser Aagot, Arney ou Ásfríður; Baldey, Bebba ou Brá. Dögg, Dimmblá, Etna e Eybjört são opções aceitas, assim como Frigg, Glódís, Hörn e Ingunn. Jórlaug funciona bem, Obba, Sigurfljóð, Úranía, também, e, se você quiser, até Vagna.

    Mas, se você é menina na Islândia, não pode se chamar Harriet.

    "A situação toda é um pouco absurda", disse Tristan Cardew, atenuando os fatos de maneira tipicamente britânica.

    Ele e sua mulher, a islandesa Kristin, estão recorrendo contra a decisão tomada pelo Registro Nacional em Reykjavík de não renovar o passaporte da filha deles, Harriet, 10 anos, com o argumento de que não reconhece seu nome.

    Como o registro tampouco reconhece o nome do irmão de Harriet, Duncan, 12, até este ano as duas crianças sempre viajaram com passaportes que os identificam como Stúlka e Drengur Cardew: Menina e Menino Cardew.

    "Desta vez as autoridades decidiram aplicar a lei à risca", contou ao "Guardian" Tristan Cardew, cozinheiro britânico que se mudou para a Islândia 14 anos atrás. "E a lei diz que nenhum documento oficial será dado a pessoas que não tenham um nome islandês aprovado."

    Devido ao impasse, a família Cardew, que vive em Kópavogur, correu o risco de perder suas férias na França, na próxima semana, até que pediu à embaixada britânica um passaporte britânico de emergência, que deve permitir que deixem o país.

    Os nomes são importantes na Islândia, país de apenas 320 mil habitantes cuja lista telefônica identifica os assinantes por seus primeiros nomes, pela razão muito sensata de que a grande maioria dos sobrenomes islandeses simplesmente registra o ato de eles serem filhos de seu pai ou sua mãe. Por exemplo, os filhos de Jón Einarsson podem se chamar Ólafur Jónsson e Sigríður Jónsdóttir.

    A lei determina que, exceto nos casos em que pai e mãe são estrangeiros, os nomes das crianças nascidas sejam apresentadas ao Registro Nacional em até seis meses após o nascimento. Se o nome não constar de uma lista de 1.853 nomes femininos e 1.712 nomes masculinos reconhecidos, os pais precisam pedir a aprovação do Comitê Islandês de Nomes.

    Para cerca de 5.000 crianças que nascem anualmente na Islândia, o comitê recebe por volta de cem pedidos de autorização, dos quais rejeita metade sob os termos de uma lei de 1996 que visa principalmente preservação a língua das sagas.

    Entre os requisitos da lei está o de que os nomes devem ser "capazes de ter terminações gramaticais islandesas", que não "conflitem com a estrutura linguística da Islândia" e que sejam "escritos de acordo com as normas comuns da ortografia islandesa".

    O que isso significa na prática, segundo o site Reykjavik Grapevine, é que nomes que contenham letras que não existem oficialmente no alfabeto islandês de 32 letras, como o "c", não são aceitos.

    Também são rejeitados nomes que não possam acomodar as terminações exigidas pelos casos nominativo, acusativo, genitivo e dativo usados na língua islandesa. "Esse era o problema com 'Harriet': não pode ser conjugado em islandês", disse Cardew.

    As leis islandesas relativas a nomes vêm sendo mais e mais criticadas. No ano passado, Blær ("Brisa Leve") Bjarkardóttir Rúnarsdottir ganhou o direito de ser conhecida oficialmente por seu nome, em oposição a "Menina", quando um tribunal decidiu que negar-lhe esse direito seria uma violação da Constituição islandesa. Um ex-prefeito de Reykjavík, Jón Gnarr, também descreveu a lei nacional de nomes como "injusta, estúpida e contrária à criatividade".

    A família Cardew poderia resolver o problema de Harriet, dando a ela um nome do meio islandês. "Mas é um pouco tarde para isso e é muito absurdo", disse Cardew. "Estão dizendo que não nos querem aqui?"

    Tradução de Clara Allain

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024