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    Sarkozy é detido em investigação por tráfico de influência

    GRACILIANO ROCHA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

    01/07/2014 05h33

    O ex-presidente da França Nicolas Sarkozy (2007-2012) foi detido provisoriamente nesta terça-feira (1º) pela polícia francesa para depor em um inquérito que apura se ele montou uma rede clandestina de tráfico de influência.

    É a primeira vez na história moderna da França que um ex-chefe de Estado enfrenta uma prisão provisória.

    Ele se apresentou pela manhã em uma delegacia especializada em crimes financeiros em Nanterre, cidade colada ao oeste de Paris. Não foi algemado.

    Após quase 15 horas de depoimento, Sarkozy foi levado à presença de um juiz de instrução no Tribunal de Grande Instância de Paris, por volta das 23h30 (18h30 no horário de Brasília).

    Ele ainda não foi liberado. Pela lei francesa, ele pode ficar em detenção provisória por 24 horas, prorrogáveis pelo mesmo período.

    Dominique Faget/AFP
    Ex-presidente francês Nicolás Sarkozy chega à sede da Polícia Judiciária de Nanterre para interrogatório em investigação por tráfico de influência
    Sob custódia, Sarkozy chega à sede policial para interrogatório em investigação por tráfico de influência

    Na segunda, o advogado do ex-presidente Thierry Herzog e dois magistrados da da Corte de Cassação (instância mais alta da Justiça francesa), Gilbert Azibert e Patrick Sassoust, também foram detidos para depor.

    Sarkozy e seu advogado Herzog são suspeitos de prometer a Azibert um cargo no principado de Mônaco em troca de informações sigilosas da investigação sobre um caixa dois da campanha presidencial de 2007,
    supostamente abastecido pelo ditador deposto líbio Muammar Gaddafi.

    No curso da investigação, Sarkozy e Herzog tiveram os telefones grampeados com autorização da Justiça e passaram a se comunicar com celulares registrados em nomes de terceiros.

    Foi a partir da captura de diálogos nestes aparelhos que surgiram os indícios de tráfico de influência no Judiciário.

    Em caso de condenação, o crime é punido com até 10 anos de prisão e multa.

    "Nós contestamos a legalidade destas escutas, que violaram o sigilo entre cliente e advogado", disse à noite ao canal BFMTV Paul-Albert Iweins, que defende Herzog.

    MEMÓRIA CURTA

    O caso é um revés para a possível volta de Sarkozy como candidato à sucessão do socialista François Hollande, em 2017.

    "A cada vez que se fala do retorno político dele acontece um episódio judiciário, como se quisessem impedir o seu retorno", disse o deputado Sébastien Huyghe, da UMP (União para um Movimento Popular), partido de Sarkozy.

    O porta-voz do governo socialista, Stéphane Le Foll, disse que o Judiciário age com independência e que o ex-presidente é "um cidadão como qualquer outro".

    A líder da legenda de extrema-direita Frente Nacional, Marine Le Pen, disse que a detenção de Sarkozy representa "a decomposição da vida política francesa e o colapso definitivo da UMP".

    O caso da detenção provisória ainda não é o fim da linha para Sarkozy, segundo Madani Cheurfa, secretário-geral do Centro de Estudos Políticos da Sciences Po (Instituto de Estudos Políticos de Paris).

    "Não dá para dizer que a carreira dele acabou. Na história política francesa, pessoas com antecedentes judiciais já foram até reeleitas porque os franceses têm memória curta em casos de corrupção", disse à Folha.

    ESCÂNDALOS EM SÉRIE

    Este não é o primeiro escândalo envolvendo suspeitas de caixa dois na campanha que Sarkozy levou à Presidência.

    Em outubro de 2013, a Justiça o excluiu, por falta de provas, do processo sobre supostos repasses a seu partido feitos por Lilliane Bettencourt, herdeira da gigante dos cosméticos L'Oréal.

    Em maio passado, um ex-coordenador da campanha de Sarkozy admitiu o uso de notas frias para justificar 10 milhões de euros em despesas que ultrapassaram o teto legal dos gastos de campanha.

    O episódio derrubou o presidente da UMP, Jean-François Copé.

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