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    Vice-presidente argentino vai de gerente da economia a problema

    FELIPE GUTIERREZ
    DE BUENOS AIRES

    06/07/2014 02h30

    O vice-presidente argentino, Amado Boudou, era ministro da Economia quando o PIB do país cresceu 9,2%, segundo dados oficiais. Também foi responsável por uma rodada de negociação de títulos de dívida que não estavam sendo honrados.

    Sua gestão foi de 2009 até o fim de 2011. No ano seguinte, assumiu a Vice-Presidência e se transformou num dos maiores problemas internos da presidente Cristina Kirchner -o único vice na história do país a responder no cargo a um processo criminal.

    Apesar de Boudou se dizer kirchnerista, a identificação com a corrente política liderada por Cristina nem sempre foi tão forte. "Ele tinha características diferentes das de um kirchnerista típico", diz a deputada de oposição Patricia Bullrich, que cita um comportamento "de ostentação".

    David Fernández - 9.jun.2014/Efe
    Amado Boudou chega a tribunal de Buenos Aires para audiência de seu processo
    Amado Boudou chega a tribunal de Buenos Aires para audiência de seu processo

    O político é conhecido como um economista-roqueiro. Ele já tocou guitarra em diversas apresentações da banda Mancha de Rolando, e há várias fotografias dele pilotando motos Harley-Davidson.

    Além da imagem extravagante, outra coisa que o distingue dos kirchneristas mais tradicionais é a ausência de uma história de militância.

    Boudou não começou a carreira política como peronista, como Cristina e seu marido e antecessor, Néstor (1950-2010), mas sim na UCeDé, sigla de direita. Economista de formação, concluiu o mestrado numa faculdade de tradição liberal, a Ucema.

    "Era bom aluno, acima da média", diz Germán Coloma, professor da instituição. Coloma conta que, na época, Boudou era funcionário do órgão gestor da previdência, a Anses (Administração Nacional da Seguridade Social).

    Lá, ele respondia a Sergio Massa -ex-kirchnerista que, hoje na oposição, é o pré-candidato mais bem colocado nas pesquisas para a eleição presidencial de 2015. Massa foi chefe de gabinete de Cristina de 2008 a 2009 e indicou aos Kirchner o nome de Boudou para dirigir a Anses.

    A Folha procurou a assessoria de Massa para comentar, mas não obteve resposta. A assessoria de imprensa do vice também não respondeu às questões desta reportagem.

    CASA DA MOEDA

    Boudou alega que o escândalo que resultou no processo é fruto de perseguição da mídia. Quando dirigia a Anses, ele fechou os fundos de pensão privados -segundo o vice, anunciantes importantes. Pouco depois, tornou-se ministro da Economia.

    No ministério, Boudou constatou o sucateamento da Casa da Moeda. Na imprensa, falava-se em contratar o órgão análogo do Brasil para imprimir cédulas argentinas.

    A gráfica Ciccone, que fizera serviços semelhantes, poderia ser acionada -mas, endividada e sem os impostos em dia, ela não teria como ser fornecedora do Estado.

    De repente, um investidor desconhecido, The Old Fund, aportou dinheiro na gráfica. A situação no Fisco também melhorou: um pedido de quebra foi levantado. Assim, em 2012, a Casa da Moeda terceirizou uma parte da produção de cédulas para a Ciccone.

    É justamente o papel de Boudou nessa operação que pode levá-lo à prisão. O juiz Ariel Lijo suspeita que The Old Fund seja, na verdade, do próprio vice-presidente. E que ele, quando ministro, acelerou o processo para reabilitar a gráfica. Caso isso seja comprovado, o economista-roqueiro pode pegar uma sentença de até seis anos.

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