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    Banco vai ajudar não só Brics, mas outros emergentes também, diz Mantega

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    14/07/2014 02h00

    Um novo banco de desenvolvimento, o banco dos Brics, nasce nesta terça-feira (15) como alternativa ao Banco Mundial, com um quinto da capacidade de emprestar, em comparação com o colega fundado no pós-guerra.

    Mas o banco dos Brics irá aumentar seu poder de fogo.

    William Volcov/Brazil Photo Press/Folhapress
    O ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista, em maio
    O ministro da Fazenda Guido Mantega

    O capital integralizado inicial (investido pelos sócios Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de US$ 10 bilhões pode chegar a US$ 50 bilhões e tem autorização para alcançar US$ 100 bilhões por meio de captações. Além disso, o banco irá administrar fundos especiais de investimentos com capital de terceiros, informou em entrevista à Folha o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

    E o primeiro fundo especial irá financiar a execução de projetos de infraestrutura.

    "As reformas no FMI não foram implementadas e isso tornou necessário o desenvolvimento de instrumentos alternativos", disse Mantega.

    Os ministros da Fazenda reunidos nesta segunda (14) em Fortaleza, para a Cúpula dos Brics, decidem os detalhes finais do banco: sede (que deve ser a chinesa Xangai) e o primeiro presidente (que deve ser um brasileiro).

    Veja abaixo os principais trechos da conversa:

    *

    Unidade
    A partir da crise financeira de 2008, instituiu-se o G20 como foro das maiores economias do mundo. O G20 simboliza a ascensão dos emergentes ao nível principal das decisões.
    A partir das discussões no G20, nós, Brics, fomos descobrindo afinidades em relação a políticas de combate a crise. Os Brics eram os países mais entusiasmados em tomar medidas anticíclicas, achavam que a crise não deveria ser combatida só com ajuste fiscal, que isso deveria ser combinado com estímulos econômicos.
    Juntos, colocamos recursos no Fundo para que ele pudesse ter mais poder de fogo na crise. Também nos unimos por uma reforma nas cotas do FMI, dando mais poder de decisão aos Brics. Temos lutado para que a reforma seja concretizada [foi acordada em 2010, mas o Congresso dos EUA ainda não aprovou].

    Banco
    Uma das saídas para a crise é aumentar investimentos em infraestrutura, mas falta financiamento. Os organismos multilaterais que existem hoje, como BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] e CAF [Corporação Andina de Fomento], não têm recursos suficientes.
    O Novo Banco de Desenvolvimento vai financiar não só os Brics, vai ser usado por outros emergentes. O banco terá um rating [classificação de risco] muito elevado para captar recursos. O capital total que aprovamos é de até US$ 100 bilhões, e o banco terá ingresso de outros emergentes e instituições financeiras.

    Fundos de investimentos
    Constituiremos já na criação do banco fundos especiais de investimentos. Vamos começar com um fundo para projetos, faltam projetos de infraestrutura. Vários fundos poderão surgir e se somarão ao capital. Serão apenas gerenciados pelo banco, não comprometem o capital do banco. Já de início o banco terá fundos de investimentos.

    FMI dos Brics
    O objetivo do Arranjo Contingente de Reservas é ajudar os Brics a equilibrarem seus balanços de pagamentos. Esse arranjo, de US$ 100 bilhões, é complementar ao FMI -os sócios podem sacar em momentos de crise para ajudar com problemas de liquidez. Teremos assessoria do FMI, que será acionado para avaliar a solidez dos países.

    Alternativas
    As reformas no FMI não foram implementadas, isso tornou necessário o desenvolvimento de instrumentos alternativos. Queremos fortalecer o FMI e estamos trabalhando para isso. Só que nos foi prometida uma reforma que até agora não se realizou.
    Teremos um banco de desenvolvimento dirigido pelos Brics, que também vai ajudar a desenvolver países na África, Ásia e América Latina.

    Motores
    Os Brics vão continuar liderando o crescimento da economia mundial. É claro que, diante da crise, todo mundo desacelerou. Mas desaceleraram mais fortemente os avançados -que, aliás, criaram a crise.
    A China não cresce mais 11%, mas cresce 7,5%. O Brasil e a Rússia tiveram uns problemas a mais, mas também vão se recuperar. Para nós, é muito importante que os mercados dos EUA e UE [União Europeia] voltem a crescer, mas, como eles não têm dado sinais de dinamismo, temos que olhar para alternativas.

    Controle
    Os Brics sempre terão 55% do controle da instituição, em igualdade de condições. A China pode querer colocar mais dinheiro, mas só nos fundos especiais, que não interferem no controle do banco.
    Se a sede for na China, não haverá influência excessiva chinesa, porque a primeira presidência não será do país. A presidência é rotativa, cinco anos para cada um.

    Divergências
    Países não precisam ter acordo em tudo. Temos interesses comuns fortes, como o de obter papel maior no concerto político internacional, e isso foi bem sucedido.
    O banco e o arranjo são um amálgama da atuação conjunta dos países, uma novidade no sistema de Bretton Woods [que criou FMI e Banco Mundial].

    Brasil
    Não podemos falar só sobre curto prazo, temos de ter uma visão de longo prazo. Nos últimos dez anos, o Brasil cresceu mais de 3% ao ano.
    Não dá para comparar com o crescimento de um país com a renda per capita da China, que está "decolando", ou da Índia. Eles têm um potencial muito maior, sobretudo porque são agrários, há grandes ganhos de produtividade quando migram para a cidade.
    Já passamos por isso. Podemos crescer 3%, 4%, que é mais do que suficiente para aumentar riqueza.

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