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    Dilma critica FMI, mas diz que banco dos Brics não muda participação no fundo

    TAI NALON
    DE BRASÍLIA

    16/07/2014 10h55

    Um dia depois de formalizar a criação do Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira (16) que a instituição não diminui a participação brasileira em órgãos multilaterais como o FMI (Fundo Monetário Internacional). Ela disse, contudo, que o fundo não reflete a correlação mundial de forças do G-20, acordado antes mesmo do estouro em 2008 da crise econômica mundial.

    "O que nós reivindicamos por exemplo no FMI é que haja aquilo que foi acertado quando da criação do G-20 e toda a reação diante da crise de 2007 e 2008 foi acertado que haveria essa adequação. A representação econômica dos países seria refletida no acordo de cotas", disse a presidente.

    "Nós não temos o menor interesse em abrir mão do fundo monetário, pelo contrário. Temos interesse em democratizá-lo e torná-lo mais representativo. O novo banco dos Brics não é contra, ele é a favor de nós. É diferente. É uma postura completamente diferente. E terá sempre uma postura diferenciada em relação aos países em desenvolvimento", continuou.

    A fala foi depois de agenda bilateral nesta quarta-feira no Palácio da Alvorada com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Trata-se de uma agenda paralela ao segundo dia de reunião dos Brics, que terá sede desta vez em Brasília, depois de um dia inteiro em Fortaleza.

    Ao ser questionada se a criação do novo banco assegura independência do Brasil em relação ao FMI, rebateu: "Olha, eu não diria isso porque não sou dependente do FMI. O dia que este país -eu tava presente e foi um momento histórico- era presidente do FMI o [Rodrigo] Rato, aquele do Bankia. Vocês entrem na internet e olhe o que é o Bankia, um dos bancos espanhóis que quebraram. Ele era presidente do FMI quando o governo brasileiro pagou a nossa dívida. A partir deste momento nós nunca mais dependemos do FMI".

    "O FMI nunca mais dirigiu a política brasileira. A nossa relação com o FMI passou de relação devedora para credora", continuou.

    Na capital cearense, a presidente anunciou nesta terça, ao final da cúpula dos Brics, a fundação do banco, com US$ 50 bilhões de capital para financiar projetos de infraestrutura nos Brics e em outros países em desenvolvimento, montante que pode chegar a US$ 100 bilhões.

    A Índia exigia ter a sede do banco em Nova Déli. Mas a China insistiu em tê-la em Xangai. O governo brasileiro dizia que o Brasil seria o primeiro a presidir o banco. Mas, no final, teve de abrir mão.

    Dilma, nesta quarta, minimizou o fato de ter cedido para que o banco fosse criado. "Eu acho fantástico, eu acho típico do Brasil [apontar a perda da sede do banco]. Se a gente tivesse ficado com a primeira vice-presidência, a imprensa estaria hoje dizendo: 'o Brasil perdeu a sede'", ironizou.

    Segundo ela, é "absolutamente inadequado" avaliar a criação da nova instituição sob o ponto de vista de quem a sedia ou não. Em sua avaliação, há uma "forma rotativa de gestão" que segue um "padrão igualitário".

    "O banco é um banco que não tem um país com poder acionário maior do que o outro. Essa é a realidade dos Brics. E eu acho que é mais importante perceber o efeito disso", disse Dilma.

    Dilma pontuou também que, uma vez consolidado o banco, os países que integram o grupo olharão "com muita generosidade" a concessão de empréstimos. Ela ponderou, no entanto, que qualquer benefício será feito com "padrões de boa gestão".

    "Ninguém vai sair por aí, nem é esse o papel do banco dos Brics, fazendo qualquer ação financeira sem fundamento técnico. Sem base, sem avaliação. Eu acho um momento significativo e não só no curto prazo, no longo prazo. De fato ele reflete um mundo mais multipolar", disse.

    CAMPANHA

    Desde iniciado o período formal de campanha às eleições presidenciais, na semana passada, Dilma ainda não participou de nenhum evento eleitoral. Ela tem se ocupado, em vez disso, de cumprir agenda de "estadista", conforme os planos de seus principais conselheiros.

    Na campanha, a estratégia é que a presidente Dilma só deve vestir o figurino de candidata na rua entre a última semana de julho e a primeira de agosto. Os encontros bilaterais e a agenda com membros dos Brics, da Celac (Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos) deve pautar o restante desta semana, em uma área onde, nas palavras de um interlocutor presidencial, eles não tem visibilidade.

    Nesta quarta, ela evitou falar quando irá começar sua agenda de candidata. Disse que estava com os compromissos lotados desde a Copa do Mundo, encerrada no domingo passado, e entrou diretamente na pauta dos Brics. "Eu sou brigada a ter duas atividades. A minha atividade como presidente se sobrepõe à outra necessariamente. Eu tenho responsabilidades com o país. Então, eu estou representando o Brasil na cúpula dos Brics. E eu vou fazer campanha no momento em que eu possa fazer campanha", disse.

    "Afinal de contas tem cinco chefes dos Brics mais todos da Unasul, que se não me engano são 12. Então são 17 presidentes e ainda por cima com visitas bilaterais. Amanhã tem a bilateral com a China que é muito importante, por exemplo", relatou.

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