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    Museu e filme 'apresentam' Ilhas Malvinas a argentinos

    FELIPE GUTIERREZ
    DE BUENOS AIRES

    21/07/2014 18h50

    Apesar de a Argentina pleitear as Ilhas Malvinas, poucos argentinos, de fato, conhecem o arquipélago.

    Apresentar a região é um dos objetivos de um museu, inaugurado no mês passado em Buenos Aires. O propósito não é falar sobre a guerra entre o país e o Reino Unido pela posse das ilhas, em 1982, mas, sim, mostrar aos portenhos um quadro completo sobre as Malvinas: geografia, história, quem vive lá, de que vivem.

    Um documentário em cartaz na cidade tem propósito parecido: contar aos argentinos como são as Malvinas nos dias atuais, e intercala isso contando uma tragédia pessoal de uma co-diretora do filme.

    "Devido à ocupação inglesa, é difícil conhecermos essa parte do nosso território. O museu não é sobre a guerra, mas abarca toda a história", diz Mario Volpe, 59, vice-diretor do Museu das Malvinas e Ilhas do Atlântico Sul.

    Ele afirma que o intuito da diretoria é tornar o espaço um museu popular, com público massivo. Segundo Volpe, a média diária de visitantes ronda 400, sendo que há muitos estudantes –que devem intensificar sua presença em agosto, quando as aulas voltarem.

    Romina Santarelli/Ministerio de Cultura de la Nación/Efe
    Mesas interativas em museu de Buenos Aires contam a história das Ilhas Malvinas
    Mesas interativas em museu de Buenos Aires contam a história das Ilhas Malvinas

    Para apresentar as ilhas aos argentinos, o museu conta com poucas peças, mas muitos vídeos e mesas interativas. Uma parte ampla do espaço de dois andares é dedicada a mostrar como a fauna e a flora das Malvinas são semelhantes às da Patagônia –ou seja, como há uma certa unidade entre os territórios continental e as ilhas.

    Na mesa interativa há muitos dados –tanto sobre a população (como a origem dos habitantes), como geográficos, como o tamanho das ilhas. Elas têm cerca de 12 mil quilômetros quadrados.

    O museu fica no endereço da antiga Escola da Marinha, um conjunto de prédios onde funcionava um centro clandestino de tortura durante a ditadura militar (1976-1983).

    A FORMA EXATA DAS ILHAS

    "Ilhas Imaginadas: A guerra das Malvinas na literatura e no cinema argentino" é o nome do livro da doutora em literatura Julieta Vitullo, publicado sem a autora nunca ter posto os pés nas ilhas.

    Em 2006, ela visitou o arquipélago pela primeira vez. Ela voltou posteriormente, em 2010, e essas duas viagens viraram o documentário "A Forma Exata das Ilhas".

    A ideia era contrapor as ilhas dos filmes de ficção e da literatura com a realidade. Conclusão: "As Malvinas que eu imaginava e com que sonho são menos chatas do que as reais", diz Vitullo em um trecho do filme.

    Uma das atrações das Malvinas, exibida reiteradas vezes no filme, é uma casa que tem um jardim com estátuas de anões.

    Os moradores entrevistados (um holandês e um inglês) descrevem uma vida diferente do resto do mundo (não há violência nenhuma, um deles diz) e com grandes dificuldades logísticas, por se tratar de um lugar remoto.

    Apesar de ter declarado, no filme, que considerou as ilhas mais chatas do que imaginava, Vitullo se emocionou durante a visita em 2006. Por acaso, ela encontrou dois ex-combatentes argentinos.

    Além de conversar no quarto do hotel e beber cerveja, os três vão ao lugar onde os soldados argentinos ficaram entrincheirados. Um deles chora ao colocar uma cruz para um amigo que morreu na guerra.

    Vitullo gravou um vídeo diário dessa primeira viagem. A intenção não era transformar os registros em documentário. Mas algo muda. No fim dessa primeira experiência nas ilhas, ela narra que, um dia, irá levar o filho ao lugar.

    Ela chegou a ter um filho, mas a criança morreu poucas horas após o parto. Vitullo decide, então, transformar o material em um filme. Ela voltou às Malvinas em 2010, dessa vez com diretores de cinema, para completar as gravações.

    GUERRA

    As Malvinas foram da Argentina durante 23 anos –entre 1810, data da independência do país, e 1833, quando o Reino Unido as invadiu e tomou posse.

    Durante o século 20, a Argentina tentou, por vias diplomáticas, a devolução das ilhas, consideradas um ponto estratégico.

    Mas em 1982 a ditadura militar decidiu pela invasão e, assim, iniciou uma guerra, que durou dois meses e matou 649 argentinos e 255 ingleses.

    Hoje, as Malvinas, com população de cerca de 3 mil habitantes, continuam sob domínio britânico.

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