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    Sob controle separatista, Donetsk vira cidade-fantasma

    LEANDRO COLON
    ENVIADO ESPECIAL A DONETSK (UCRÂNIA)

    27/07/2014 03h02

    Avenidas vazias, lojas e restaurantes fechados, obras paralisadas, moradores perdendo empregos, outros com salários suspensos. E muita gente deixando a cidade.

    O controle por forças separatistas pró-Rússia, diante da inoperância do governo ucraniano, tirou muito mais que a paz dos que vivem na cidade de Donetsk, capital da região administrativa de mesmo nome, até então uma das mais ricas da Ucrânia.

    Na quarta-feira (23), às 11h30, estavam vazios os acessos ao shopping Donetsk City, que fechou as portas até agosto, assim como os luxuosos restaurantes e grifes da mesma avenida.

    Ao lado, está suspensa a construção de luxuosos prédios residenciais. Uma placa avisa: em caso de bombardeio, há um abrigo por perto. Na outra ponta da avenida fica a praça Lênin, que agora, pela manhã ou à tarde, também não tem ninguém.

    Dominique Faget/AFP
    A praça Lênin, na cidade ucraniana de Donetsk; antes ponto movimentado, hoje o lugar está às moscas
    A praça Lênin, na cidade ucraniana de Donetsk; antes ponto movimentado, hoje o lugar está às moscas

    À noite, ninguém arrisca sair com medo do conflito entre os separatistas e as forças de Kiev que já matou quase 500 pessoas –sem contar os 298 passageiros do Boeing da Malaysia Airlines que teria sido abatido pelos rebeldes.

    Resultado: segundo as autoridades locais, ao menos 30 mil pessoas já deixaram a cidade desde o início do conflito, em março deste ano.

    E centenas se aglomeram todos os dias na estação central de trem em busca de um bilhete para algum lugar –na Ucrânia ou na Rússia. Entre elas está Ksenia, 24, que vai para Moscou. "Não temos saída", diz a mãe, Marina, 54, ao se despedir. Sobrenome? "Não dou, não é seguro."

    Até agora, ao menos 12% dos negócios de Donetsk fecharam, de acordo com dados da prefeitura, e 8.200 vagas de empregos foram extintas. Algumas empresas preferiram pedir para os funcionários trabalharem de casa.

    Os caixas eletrônicos começam a se esvaziar, e os supermercados temem o inverno, com o aeroporto fechado e as estradas bloqueadas. Um dos mais famosos hotéis, o Ramada, fechou um de seus dois restaurantes e cortou os garçons de 36 para 5.

    PROMESSA

    Em 2012, a revista "Forbes" apontou Donetsk como a melhor cidade da Ucrânia para negócios. Suas credenciais eram invejáveis: 1 milhão de habitantes, com alto poder de compra, investimentos, estabilidade econômica, conforto e infraestrutura.

    Uma economia com 200 grandes indústrias, 20 mil empresas de pequeno e médio porte, produção de € 3 bilhões (R$ 9 bilhões) ao ano.

    A indústria do aço e do carvão ajudou a alavancar a região, que foi praticamente destruída pelos alemães na Segunda Guerra Mundial.

    Nos últimos 18 anos, construiu-se ali uma potência do futebol local: o Shakhtar (mineiro, em ucraniano), comprado pelo bilionário Rinat Akhmetov em 1996 –um fã do futebol brasileiro.

    O cenário começou a mudar com a derrubada de Viktor Yanukovich da Presidência ucraniana, em fevereiro. Donetsk, onde cerca de 75% da população fala russo, votara em peso nele.

    Os separatistas reagiram à queda tomando o controle da cidade, inclusive do prédio do governo local. A fragilidade de reação do governo colaborou para transformar Donetsk em um caos.

    Resta a esperança de que a Rússia comece a ajudá-los financeiramente, em algum momento.

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