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    Ataques afetam população em mês sagrado do islã

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A GAZA

    28/07/2014 02h20

    O mês sagrado do Ramadã, em Gaza, não está sendo comemorado com os dois adjetivos que em geral são usados para descrevê-lo em fórmulas islâmicas: "Ramadã karim", honrado, ou "Ramadã mubarak", abençoado.

    A população do estreito de terra tem jejuado desde as 4h até as 20h, por determinação religiosa, apesar da operação militar israelense que bombardeia a área, em luta contra a facção radical Hamas.

    O embate está em sua terceira semana, com saldo de ao menos 1.023 palestinos e 46 israelenses mortos até domingo (27).

    Mais de 40% do território de Gaza é considerado zona de exclusão, onde embates entre Israel e o Hamas expulsaram os habitantes, empurrados para regiões centrais. As bordas do estreito são inseguras, e diversos trechos viraram regiões fantasmas.

    Uma integrante da família Atar, que não se identifica, é encontrada pela reportagem da Folha sentada sob a sombra dos muros de uma escola da ONU. Chegou ali há duas semanas, refugiada de Beit Lahiya, no norte.

    "É nosso mês sagrado. Não podemos jejuar direito", lamenta-se. Ela diz que a ONU lhes dá, para o "iftar" (desjejum de Ramadã), apenas pão e atum –entre muçulmanos, a refeição costuma ser um alegre banquete.

    No islã, é observado o jejum durante todo o mês de Ramadã, que celebra a descida do livro sagrado Corão, revelado pelo profeta Maomé no século 7º. O jejum é um dos pilares religiosos do islamismo.

    Assim como grande parte dos deslocados das margens da faixa de Gaza, os Atar deixaram plantações para trás e hoje passam seus dias sem perspectivas.

    Médicos se preocupam com a falta de água potável durante o Ramadã. A temperatura também castiga, acima de 30ºC durante a semana, aumentando o risco à saúde durante o jejum religioso.

    Muhammad, também abrigado na escola, diz que na carência de água abriu mão do banho. No pátio, um senhor lavava a cabeça com uma garrafa de água e sabão, no que parecia ser um luxo diante da situação. Moradores se amontoavam ao redor de um caminhão-pipa, para encher suas próprias garrafas.

    A dona de casa Nahid Cirsawi adaptou sua rotina anterior ao confronto, na igreja onde está abrigada, refugiada do leste da faixa de Gaza. Havia dois tanques de água ali, mas foram destruídos em um ataque israelense. Agora, ela usa a água doada por uma mesquita para lavar as roupas que trouxe no corpo.

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