A comunidade muçulmana celebra nesta segunda-feira (28) o Eid al Fitr, data mais importante do calendário muçulmano, quando se comemora o fim do jejum ocorrido durante o mês do Ramadã.
Este ano, porém, a festa acontece em meio ao conflito na faixa de Gaza, que em quase três semanas matou mais de mil palestinos e 46 israelenses.
O Ramadã representa o mês sagrado em que o profeta Maomé recebeu a primeira revelação divina. No calendário muçulmano, é o nono mês, período no qual, do amanhecer ao pôr do sol, os muçulmanos não podem comer nem beber e adotam a abstinência sexual.
"Não há como essa festa ser completa. Hoje, infelizmente, esse ano o nosso feriado não está completo, porque existem irmãos que estão sofrendo, chorando seus mortos, crianças estão órfãs, pais perderam seus filhos", afirmou o sheikh Jihad Hammadeh, presidente do Conselho de Ética da União Nacional Islâmica.
Ele falou durante a confraternização em São Paulo, ocorrida na Mesquita Brasil, primeira construída na América Latina, em 1929.
Segundo Hammadeh, a comunidade muçulmana brasileira recebeu com muito agrado a postura brasileira na crise. "O silêncio em horas como essa não é neutralidade, é cumplicidade."
Na semana passada, o Itamaraty divulgou uma nota em que condenava "energicamente" a ofensiva israelense.
Em uma das mensagens do sermão proferido em árabe para os cerca de 2.000 fiéis presentes, o sheikh egípcio Abdel Hamid Metwally, líder religioso da Mesquita Brasil e chefe da Missão do Ministério dos Bens Religiosos do Egito, agradeceu à presidente Dilma Rousseff pela solidariedade ao povo palestino.
Para Hammadeh, clérigo formado pela Universidade Islâmica de Medina (Arábia Saudita), a alegação do governo israelense de que o Hamas, grupo radical islâmico que controla Gaza, usa uma política de escudos humanos e que essa é a causa do elevado número de civis palestinos mortos, é "totalmente infundada e retórica".
"Olho por olho, dente por dente, todos vão acabar cegos e desdentados", disse ele, que também é vice-presidente da Assembleia Mundial da Juventude Islâmica na América Latina.
"A felicidade de hoje está engasgada", conta o professor e cantor de música árabe Mano Marroquino. Para ele, a religião é colocada em um conflito que não é sobre a religião e que "não opõe judeus e muçulmanos".
A pedagoga Taheni Smaih, 20, conta que a comunidade brasileira está muito tocada pelo que vem acontecendo em Gaza. "Mas sempre pensamos nos palestinos, não só durante o Ramadã."