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    Análise: Israelenses e palestinos estão presos a círculo vicioso de guerras em Gaza

    MARK HEINRICH
    DA REUTERS, EM LONDRES

    01/08/2014 15h24

    Quando Israel pôs fim aos seus 38 anos de ocupação da Faixa de Gaza ao retirar seus colonos da região em 2005, o então primeiro-ministro Ariel Sharon definiu positivamente a decisão como um "desengajamento" do conflito com os palestinos no enclave costeiro densamente povoado.

    Mas o conflito não acabou; ele só mudou.

    Israel continuou expandindo seus assentamentos na Cisjordânia, onde os palestinos também desejam estabelecer um Estado. Ativistas da linha dura islâmica tomaram o controle de Gaza em 2007 e os esforços periódicos dos Estados Unidos para intermediar uma paz permanente entre Israel e a Autoridade Palestina, sob o presidente Mahmoud Abbas, um político laico, se provaram infrutíferos.

    No vácuo diplomático, as feridas do confronto supuraram.

    Israel vedou as fronteiras de Gaza em um bloqueio econômico sufocante e o movimento Hamas, que governa o território, e outras facções militantes disparam foguetes, com frequência e alcance cada vez maiores, ainda que não com precisão, contra o Estado judaico.

    Israel, por sua vez, bombardeou Gaza incontáveis vezes do ar, e ocasionalmente envia colunas blindadas para localizar e destruir as baterias de foguetes e os túneis usados para contrabandear armas do Egito ou infiltrar o território israelense e realizar emboscadas de guerrilha.

    Os acordos de cessar-fogo organizados por intermediários, sob os quais Israel retira suas forças e os disparos de foguetes se reduzem, serviram para produzir períodos de relativa calma, mas os dois lados não demoram a retornar ao habitual confronto sangrento.

    A gestão de conflitos venceu os esforços de paz.

    A atual incursão de Israel em Gaza, na qual os israelenses buscam paralisar a ameaça dos foguetes e túneis do Hamas antes que as críticas ao país no Ocidente pelo custo elevado em mortes de civis palestinos atinjam o ponto de fervura e forcem um recuo, ecoa ofensivas passadas, de 2007 em diante.

    Mais de 1.400 palestinos foram mortos em três semanas, a maioria dos quais civis em áreas urbanas densamente povoadas e atingidas por bombardeios aéreos e de artilharia de Israel. A escala de destruição de habitações e infraestrutura palestina é maior do que em ofensivas passadas.

    Israel perdeu 61 militares e três civis, atingidos por foguetes que caíram depois de lançados sobre a fronteira de Gaza.

    Como nas guerras anteriores em Gaza, o custo em mortes e destruição é desproporcional por conta da imensa superioridade de Israel em poder de fogo moderno e de seu sistema de defesa antimísseis Domo de Ferro, que abateu a maior parte dos foguetes disparados contra as cidades do país.

    Mas o ambiente estratégico mais amplo mudou, o que torna mais difícil convencer Israel e o Hamas a baixar as armas.

    O Hamas se sente encurralado devido ao seu desentendimento com a Síria, aos laços menos estreitos com o Irã e à derrubada de seus patronos da Irmandade Muçulmana no Egito. Israel, tendo desdenhado os esforços de paz dos Estados Unidos, em um momento de frieza incomum em seu relacionamento com Washington, prometeu uma batalha longa, se necessário, para neutralizar seu adversário em Gaza.

    Ao contrário da guerra de 2008-2009 em Gaza, não houve pressão mundial séria - além de reprovação amena e intervenções da ONU - pelo fim das hostilidades. Os Estados Unidos e os principais países europeus vêm enfatizando o direito de Israel a se defender.

    As grandes potências estão distraídas e divididas por outras crises, quanto ao papel da Rússia na Ucrânia, que redesperta velhos antagonismos da guerra fria, e quanto ao espantoso avanço dos insurgentes jihadistas no Iraque e Síria.

    Os detentores das alavancas do poder no Oriente Médio estão polarizados quanto a maneiras de impedir que a região despenque à desordem, depois das revoltas da "Primavera Árabe", causadoras da queda de regimes autocráticos que se mantiveram estáveis por muito tempo.

    As negociações para uma trégua em Gaza são ainda mais complicadas pelo fato de que Israel e os Estados Unidos relegaram o Hamas ao ostracismo, definindo-o como grupo terrorista que se recusa a reconhecer o direito de Israel a existir, enquanto os intermediários - Egito, Qatar e Turquia - discordam quanto à liberdade de manobra que deve ser concedida aos islâmicos.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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