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    Judeus brasileiros se manifestam contra a política militar israelense

    LEONARDO BLECHER
    DE SÃO PAULO

    06/08/2014 12h37

    Diferentes grupos de judeus brasileiros contrários à política militar israelense manifestaram, nesta quarta (6), sua crítica. Na frente do consulado de Israel em São Paulo, houve um protesto com pouco mais de dez pessoas, e outras 100 assinaram uma carta aberta.

    A palavra de ordem na rua do consulado era "Não em meu nome", dita por judeus -alguns vestindo quipás e outros, lenços palestinos– que se declararam não-sionistas. Sionismo é o movimento que idealizou a criação de um Estado judaico.

    "Nossa expectativa é mostrar que existe esse tipo de espaço dentro da comunidade judaica, porque tem uma confusão muito grande entre identidade judaica e identidade nacional israelense", disse Yuri Haasz, 42, um dos organizadores da manifestação.

    "Além do formato etnocêntrico do Estado de Israel, criticamos o evidente desprezo a qualquer possibilidade de um Estado palestino existir, por mais que no discurso ela exista", afirma Haasz, que nasceu na cidade israelense de Haifa e mora no Brasil desde os 14 anos.

    Os manifestantes leram os nomes de diversas vítimas do conflito, israelenses e palestinos.

    O cônsul de Israel em São Paulo, Yoel Barnea, se disse preocupado com o desgaste na imagem do país após a última operação militar em Gaza.

    "Logicamente isso tem prejuizo sobre nossa imagem e aceitamos diversos pontos de vista", disse à Barnea à Folha. "Se do nosso lado não morreram 2 mil pessoas é porque Israel toma medidas para defender seus civis, ao contrário do Hamas. Eu prefiro estar vivo e condenado do que morto e lamentado".

    Já a carta aberta foi assinada por 100 acadêmicos, artistas e profissionais liberais judeus de nove cidades brasileiras. Eles criticam o governo israelense pela morte de civis e a política de construção de assentamentos em terras palestinas.

    "Repudiamos a tentativa do governo israelense de culpar unicamente esta organização [Hamas] pelas mortes de civis, inclusive mulheres e crianças, em suas operações militares", diz o documento.

    As manifestações são opostas à opinião expressada anteriormente por instituições judaicas brasileiras, como a Conib (Confederação Israelita do Brasil) e a JJO (Juventude Judaica Organizada), que justificam a ação pelo direito de defesa israelense.

    Durante o protesto em frente ao consulado, o diretor da Fisesp (Federação Israelita do Estado de São Paulo), Rubem Daniel Duek, discutiu com os manifestantes. Ele reclamou da ausência de críticas ao Hamas. "É difícil, porque eles querem aparecer e estão desinformando a população", disse.

    O cônsul israelense em São Paulo disse à reportagem que vai repassar ao governo de Israel as críticas que vêm sendo feitas no Brasil.

    *

    Confira na íntegra a "Carta aberta de judeus brasileiros contra a guerra":

    Neste grave momento do conflito Israel - Palestino, nós, judeus brasileiros abaixo assinados, entendemos que Israel tem o direito de se defender, porém não o de transgredir as normas estabelecidas pelo direito humanitário internacional. Se é verdade que a tática de guerra do Hamas implica em desrespeito por vidas humanas, tanto de israelenses quanto dos palestinos de Gaza, repudiamos a tentativa do governo israelense de culpar unicamente esta organização pelas mortes de civis, inclusive mulheres e crianças, em suas operações militares. Frente ao grande número de vidas sacrificadas é importante mobilizar todos os esforços para garantir um cessar fogo duradouro. Desumanizando o outro, terminamos por desumanizar a nós mesmos.

    Esta guerra resultou do impasse nas negociações de paz em meio à sistemática desqualificação da Autoridade Nacional Palestina pelo governo israelense e à continua expansão dos assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Cabe à comunidade das nações - incluindo o governo do Brasil - pressionar o governo israelense a mudar esta postura de procrastinação.

    Apelamos ao governo brasileiro para que busque junto a lideranças da sociedade civil israelense e palestina a interlocução e a construção da paz. O Brasil deve expressar sua estatura diplomática, priorizando, também na política externa, conforme estabelece nossa Constituição, a defesa dos direitos humanos, seja de palestinos, israelenses, curdos, sírios, dissidentes egípcios, bahais iranianos ou cristãos iraquianos.

    Como judeus, repudiamos as expressões de racismo e intolerância que têm crescido em Israel e já fragilizam sua democracia. E alertamos para as manifestações oportunistas de anti-semitismo que se aproveitam da causa palestina para espalhar este antigo veneno e pregar a destruição de Israel. Nossa resposta está na nossa solidariedade a todos aqueles que, em Israel e na Palestina, persistem na busca de uma paz justa baseada no respeito aos direitos humanos e ao direito de auto-determinação de ambos os povos.

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