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    Repressão a islamitas no Egito pode ser crime contra humanidade, diz ONG

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    12/08/2014 11h50

    A organização Human Rights Watch (HRW) acusou nesta terça-feira (12) autoridades egípcias de possíveis "crimes contra a humanidade" durante a repressão das manifestações a favor do presidente destituído Mohammed Mursi em 2013, nas quais morreram centenas de pessoas.

    Em 14 de agosto de 2013, as forças de segurança egípcias reprimiram de forma violenta dois protestos de apoio a Mursi nas praças de Raba al-Adawiya e Nahda, no Cairo, no que a HRW chama em um relatório de um "dos maiores massacres de manifestantes em apenas um dia da história recente".

    O texto destaca que, segundo a investigação da HRW, as forças de segurança utilizaram de forma intencional "excessiva força letal" para dispersar os protestos.

    "As matanças não representam apenas sérias violações dos direitos humanos internacionais, mas provavelmente também crimes contra a humanidade", afirma o documento.

    A HRW identificou os principais nomes das forças de segurança e líderes na cadeia de comando "que deveriam ser investigados, incluindo o ministro do Interior, Mohamed Ibrahim, o então ministro da Defesa e atual presidente Abdel Fatah al-Sisi e Medhat Menshawy", que comandou a dispersão em Raba al-Adawiya.

    Pelo menos 817 manifestantes morreram apenas nesta praça, segundo a HRW.

    Os incidentes provocaram uma dura repressão, que deixou 1.400 mortos e mais de 15.000 simpatizantes de Mursi e da Irmandade Muçulmana foram detidos. Centenas foram condenados à pena de morte.

    Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente no Egito, foi destituído por Sisi em 3 de julho de 2013, depois que milhões de pessoas saíram às ruas para exigir sua renúncia. Neste ano, Sisi foi eleito presidente do país.

    "As medidas adotadas não foram apenas um caso de força excessiva ou preparação deficiente", afirma Kenneth Roth, diretor executivo da HRW no documento. "Foi uma medida violenta planejada a partir da cúpula do governo egípcio. Muitos dirigentes ainda estão no poder no Egito", completou.

    Também destacou que as autoridades não investigaram nenhum dirigente envolvido.

    Roth pediu ao Conselho de Segurança da ONU a criação de uma comissão de investigação e convocou os estados a julgar estes crimes nos tribunais de seus países.

    Ele considerou que "a magnitude do massacre é tão grande que figura na mesma categoria de episódios como o da praça de Praça da Paz Celestial, na China".

    Roth e a diretora para o Oriente Médio da ONG, Sarah Leah Whitson, foram impedidos de entrar no Egito no domingo (10) para apresentar o relatório.

    OUTRO LADO

    Autoridades egípcias, que consideram a Irmandade um grupo terrorista, disseram alguns manifestantes estavam armados e dispararam contra policiais e soldados.

    O Ministério do Interior disse que 62 agentes de segurança morreram na violência em todo o Egito em 14 de agosto. Além disso, cerca de 275 policiais foram mortos em ataques ao longo do ano passado, ele disse.

    Um comunicado do Ministério do Interior sobre os eventos, publicados no sábado (9), disse que as forças de segurança só lançaram a ofensiva depois que os esforços para convencer os manifestantes a deixarem pacificamente os locais falharam.

    O comunicado diz que as forças de segurança emitiram um aviso final para os manifestantes antes da ofensiva e estabeleceram "saídas seguras" para aqueles que queriam sair antes que a polícia entrasse.

    Baseado em entrevistas com 122 testemunhas, incluindo moradores antipáticos aos manifestantes, e imagens de vídeo, a HRW concluiu as forças de segurança não deixaram nenhuma saída segura durante a maior parte do ataque de 12 horas e, às vezes, dispararam contra aqueles que procuraram fugir.

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