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    Fiéis rezam para 'expulsar' doença de Serra Leoa

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    ENVIADA ESPECIAL A SERRA LEOA

    17/08/2014 02h00

    "Ebola, saia de nossas vidas! Ebola é trabalho do demônio! Deus, acabe com o ebola", gritava o pastor Konteh Saidu diante de aproximadamente cem fiéis durante culto da Igreja Universal do Reino de Deus em Freetown, capital de Serra Leoa, na quinta-feira (14).

    Multidões de leoneses estão procurando igrejas como a Universal em busca de proteção contra o vírus ebola, na falta de uma vacina ou remédio eficaz.

    Faixas espalhadas em vários pontos de Freetown conclamam os fiéis a rezarem para expulsar o ebola do país.

    "A Bíblia diz que todos os que acreditam em Deus não vão morrer, e Deus está acima dos médicos", afirmou Saidu, que abençoava água para os fiéis levarem para suas casas.

    A Universal mantém dois templos em Freetown, que chegam a reunir até 2.600 pessoas nos cinco cultos de domingo.

    O governo baniu todas as aglomerações públicas para evitar o contágio, mas igrejas e mesquitas (boa parte da população é muçulmana) escaparam ao veto.

    Na frente da Igreja Universal, fiéis lavavam suas mãos em um balde com água sanitária, onipresente na cidade.

    "Tenho medo, e sempre lavo as mãos; mas sei que, se for parar no hospital, vou morrer", disse o pastor brasileiro Rafael da Silva, de 27 anos, que está há seis meses em Serra Leoa e vestia camiseta do templo de Salomão.

    Mas não é só à igreja que os leoneses estão apelando. À meia-noite do sábado passado (9), milhares de pessoas tomaram um banho de água com sal, rezaram e depois beberam a água.

    Segundo um pastor nigeriano, o ritual protegeria do ebola. O boato se espalhou, e muita gente aderiu.

    "Pelo sim, pelo não, todos nós tomamos o banho, já que só reza salva dessa doença", disse Amadu Ansumana, 25, que trabalha em um hotel de Freetown.

    A TV de Serra Leoa tenta apelar para medidas mais pragmáticas e veicula constantemente alertas como: "Não comam carne de macaco, chimpanzé e morcego", "Não tragam cadáveres da Libéria e da Guiné",
    "Qualquer pessoa doente tem de ser imediatamente levada ao centro de saúde".

    Mas os boatos continuam proliferando. Um dos rumores, que chegou a ser noticiado pelos jornais locais, era de que o presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, seria sócio de uma fábrica de armas biológicas
    construída por Bill Gates e George Soros em Kenema, epicentro da epidemia, e de lá teria escapado o ebola.

    "Nós apuramos esses rumores e chegamos à conclusão de que não há provas", dizia um jornal local na primeira página.

    Editoria de arte/Folhapress

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