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    Escócia se prepara para votar independência do Reino Unido

    LEANDRO COLON
    DE LONDRES

    18/08/2014 02h00

    Após 307 anos de união com os ingleses, os escoceses entram em contagem regressiva para votar, em um mês, a independência ou a permanência no Reino Unido.

    A pergunta do histórico referendo de 18 de setembro é simples: "A Escócia deve ser um país independente?".

    Se der "sim", o país passa a recolher impostos, administrar o orçamento, não prestar contas a Londres, ter Forças Armadas e disputar Olimpíada com equipe própria.

    Mas pode perder, entre outros, a libra –moeda forte do Reino Unido–, o apoio financeiro de Westminster e a presença na União Europeia.

    Mesmo com o "sim", a rainha Elizabeth 2ª ficaria como chefe de Estado da Escócia, como ocorre em 16 países do Commonwealth, comunidade de ex-colônias britânicas.

    O referendo já opôs duas celebridades escocesas.

    Alex Ferguson, que foi técnico do clube inglês Manchester United por 26 anos, é contra a separação. Sean Connery, famoso na pele de James Bond, o agente 007, pede votos ao "sim".

    Pesquisa do início do mês dá vantagem do "não" por 55% a 35%. Mesmo que o "não" saia vencedor, a consulta já tem gerado resultados políticos relevantes.

    Primeiro, porque o referendo tem exposto e acirrado as diferenças culturais e políticas do Reino Unido, formado por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.

    Segundo porque, mesmo que perca, o "sim" pode chegar a quase metade dos votos, cerca de 2 milhões de eleitores entre os 5,2 milhões de habitantes da Escócia.

    Não é pouca coisa. Se confirmado, será um duro recado a Londres. "O governo vai ter que dialogar com 2 milhões de pessoas que querem deixar de ser parte do Reino Unido. É muito significante", diz Andrew Blick, professor de ciência política do King's College, de Londres.

    Diante do risco de perder o território, os três principais partidos britânicos, Conservador, Liberal-Democrata e Trabalhista, se uniram.

    Alegam que, em caso da vitória do "sim", a Escócia deixará a União Europeia e perderá a libra (apesar da promessa contrária da campanha pela independência).

    Os partidos dizem ainda que o país terá de cobrar mais impostos e que não teria suporte financeiro para explorar sozinho o gás do mar do Norte, região escocesa.

    Somente em impostos, são cerca de 6 bilhões de libras (R$ 24 bilhões) que o governo britânico arrecada por ano com a exploração.

    Os independentistas alegam que essa área será justamente a principal ferramenta de riqueza de uma Escócia separada, citando como exemplo a Noruega.

    Nos últimos 40 anos, 40 bilhões de barris foram extraídos –estima-se um potencial de 24 bilhões em 30 anos. A campanha do "sim" também acusa Westminster de cortar investimentos no país.

    Apesar das "ameaças" de Londres, os escoceses já ganharam a promessa de que terão, a partir das eleições de 2015, mais autonomia política e financeira mesmo que recusem a independência. "Se decidir ficar, a Escócia sem dúvida terá mais poder no futuro", diz o professor Blick.

    Desde 1999, a Escócia tem um Parlamento próprio, com poderes limitados para administrar a região.

    Em 2011, o independentista Partido Nacional Escocês venceu a eleição local contra trabalhistas e conservadores. O governo britânico teve de aceitar um acordo com seu líder, Alex Salmond, nomeado primeiro-ministro do Parlamento, para realizar o referendo do próximo mês.

    Editoria de Arte/Folhapress

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