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    Análise: Cessar-fogo será celebrado por Israel e Hamas, mesmo sem vitória

    DIOGO BERCITO
    EM SÃO PAULO

    27/08/2014 02h00

    O cessar-fogo entre Israel e a facção palestina Hamas, se for desta vez mantido, será celebrado pelas duas partes como vitória estratégica.

    Na faixa de Gaza, a população foi às ruas para comemorar o que enxerga como uma derrota do Exército israelense, a despeito da devastação nesse estreito de terra, com mais de 2.000 mortos.

    Parte de sua alta cúpula foi vista em público pela primeira vez desde o início dos conflitos, há 50 dias. Agências de notícias registraram ali crianças armadas, celebrando.

    Em Israel, um porta-voz do premiê Binyamin Netanyahu afirmou que o Hamas havia aceitado a mesma proposta que vinha rejeitando nas ultimas semanas. "A razão para a mudança são os ataques aéreos", declarou.

    Um porta-voz da chancelaria insistia, também, que o cessar-fogo atual não satisfaz nenhuma das condições antes impostas pelo Hamas.

    Em termos regionais, foi uma vitória do Egito como mediador, apesar de suas credenciais parecerem inadequadas à negociação.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O Egito já havia, de fato, mediado um acordo semelhante em 2012, encerrando outro embate. Mas, então, a Presidência era ocupada por Mohammed Mursi, ligado à Irmandade Muçulmana e, assim, simpático ao Hamas.

    A situação, hoje, é outra. O golpe que derrubou Mursi levou o militar Abdel Fatah al-Sisi ao poder. Seu governo, que demonstra ojeriza ao movimento islamita no Egito, destruiu os túneis de passagem a Gaza e isolou o Hamas.

    Ao mediar um cessar-fogo entre Israel, com quem divide diversos objetivos estratégicos, e o Hamas, que considera oficialmente uma grave ameaça à sua segurança nacional, o Egito azedou suas relações com o Qatar e perdeu influência na região.

    A mediação egípcia foi vista, apesar dos esforços do Qatar e da Turquia de influenciar os termos do acordo, como uma das razões para o prolongamento do conflito.

    A liderança do Hamas está baseada no Qatar, e via nesse aliado uma melhor chance de concretizar as suas exigências, a exemplo da construção de um porto e de um aeroporto na faixa de Gaza, além do fim do estrangulador bloqueio israelense.

    Enquanto os detalhes do cessar-fogo são esclarecidos, não parece que os objetivos do Hamas tenham sido atingidos. Será permitida a entrada de ajuda humanitária e de material de construção, mas o porto e o aeroporto só serão discutidos após um mês.

    Nesse dia, Israel também trará as suas exigências à mesa, incluindo a desmilitarização de todo o estreito de terra, levando a um impasse nos termos e, mais uma vez, à provável manutenção dos motivos que levaram, afinal, à disputa entre essas partes.

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