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    Jornal mais antigo da Venezuela deixa de circular por falta de papel

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    10/09/2014 19h52

    Um jornal ligado à oposição conhecido por ser o mais antigo da Venezuela anunciou nesta quarta (10) a suspensão de sua circulação impressa alegando dificuldades de importar papel e outros insumos por causa do controle cambial imposto pelo governo central.

    "A partir da segunda-feira 15 [de setembro] e por um período que esperamos ser o mais breve possível, as páginas deste [veículo] não acompanharão o cafézinho das manhãs", disse, em editorial, o jornal "El Impulso", criado em 1904 e editado e publicado na cidade de Barquisimeto, 350 km a leste de Caracas.

    Sem citar nominalmente o presidente Nicolas Maduro, o "El Impulso" acusou o governo de bloquear seu acesso aos dólares necessários para adquirir bobinas de papel e outros equipamentos importados usado na impressão do jornal.

    O Estado venezuelano centraliza e regula com mão de ferro a disponibilidade de divisas para empresas envolvidas em comércio exterior, causando escassez de vários produtos importados, incluindo alimentos e remédios.

    Reprodução/Instagram/elimpulsocom
    Reprodução da última capa da edição impressa do "El Impulso"
    Reprodução da última capa da edição impressa do "El Impulso"

    Uma das editoras do "El Impulso", Haydeluz Cardozo, alegou à Folha, por telefone, que o jornal vem cumprindo todas as obrigações legais e requerimentos necessários à obtenção das divisas.

    "É possível que de repente consigamos mais uma carga de papel, mas isso não resolveria o problema de fundo, que é essa incerteza constante sobre nossos empregos", disse.

    A aparente restrição ao "El Impulso" se soma a uma longa lista de iniciativas das autoridades venezuelanas contra a imprensa privada.

    Nos últimos meses, três dos principais veículos de mídia (os jornais "Ultimas Noticias", "El Universal" e a TV Globovision) foram vendidos a grupos supostamente ligados ao governo.

    Enquanto aumenta a pressão sobre veículos privados, o presidente Maduro recentemente anunciou que dois novos jornais governistas serão criados.

    A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) disse que a liberdade de imprensa na Venezuela vive suas horas mais tristes, já que o governo anuncia novos meios de comunicação para seu "aparato de propaganda" enquanto fecha "meios de imprensa privados e independentes."

    As críticas foram engrossadas por várias lideranças oposicionistas, como a deputada cassada María Corina Machado e Henri Falcón, governador do Estado de Lara, onde circula o "El Impulso."

    O governo alega que a imprensa privada conspira contra a revolução socialista implantada no país com a chegada ao poder de Hugo Chávez, em 1999.

    Partidários do chavismo lembram que Pedro Carmona, catapultado à Presidência durante algumas horas durante o fracassado golpe contra Chávez, em 2002, é neto do fundador do "El Impulso."

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