• Mundo

    Saturday, 27-Apr-2024 20:50:10 -03

    Partido contra o euro cresce na Alemanha

    FÁTIMA LACERDA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BERLIM

    13/09/2014 02h00

    "A Aliança para Alemanha' [AfD] chegou pra ficar", disse o diretor do partido à imprensa de todo o país, logo depois da divulgação do resultado histórico de 9,7% dos votos alcançados nas eleições em regionais na Saxônia (leste do país), em 31 de agosto.

    Economista e professor universitário, Bernd Lucke, 51, foi, durante muitos anos, membro da União Democrática Cristã (CDU), partido da primeira-ministra Angela Merkel, até que, em 2013, criou uma legenda a ser posicionada à direita da CDU.

    O "não" à moeda europeia, com o retorno ao marco alemão, é o carro-chefe de um programa ao mesmo tempo simplório e polêmico.

    Fabrizio Bensch/Reuters
    Frauke Petry, a principal candidata ao parlamento da Saxônia
    Frauke Petry, a principal candidata ao parlamento da Saxônia

    A ascensão teve início com os 6,5% de votos alemães para o Parlamento Europeu, em maio último. Isso num cenário em que eleitores alemães percebem a UE como algo longe de sua realidade: "Lá em Bruxelas" é considerado um aparato de burocracia gigantesca que se preocupa com itens pouco importantes.

    Durante anos, o partido de Merkel teve o monopólio dos eleitores conservadores. A AfD atualmente é a maior pedra no sapato da chanceler.

    Para ratificar ainda mais o "tremor de terra partidário", nas recentes eleições da Saxônia, o partido neonazista NPD, depois de 10 anos de presença contínua, ficou fora do parlamento. Faltaram 800 votos para alcançar a marca de 5% dos votos, estipulada pela lei eleitoral. Foram exatamente esses 800 votos que fizeram a vitória do AfD ainda mais robusta.

    Na Saxônia, 48,5% dos eleitores foram às urnas. O baixo percentual e a "imigração de votos" de membros do CDU e do NPD para a AfD selaram a vitória histórica de um partido ainda à procura de uma identidade plausível para garantir seu futuro.

    Entretanto, isso se mostra especialmente difícil frente às eleições regionais de Brandemburgo (vizinha de Berlim), neste domingo.

    PERFIL PARTIDÁRIO

    O programa do partido e o perfil de sua diretoria, são, à primeira vista, coerentes. Em sua maioria, a direção é formada por ex-membros do CDU, políticos e industriais aposentados que não abdicam de suas influências e nem dos holofotes.

    Um dos mais famosos nesse clube é Hans-Olaf Henkel, ex-presidente da Federação das Indústrias Alemãs (BDI).

    Já o perfil dos membros do partido, que tem aproximadamente 11.000 filiados, é bem diferente, segundo análise publicada no portal do noticiário mais relevante do país, o "Tagesschau": "Homem, jovem com escolaridade de nível médio, 14% na faixa de 18-24 anos".

    Nesse perfil também se encaixariam trabalhadores, profissionais liberais e desempregados.

    A onipresença em programas de TV de Bernd Lucke exerce influência sobre os jovens, que veem nele "um homem comum que chegou lá".

    ATAQUES

    Já a principal candidata ao parlamento da Saxônia, Frauke Petry, mãe de quatro filhos, cabelos bem curtos e um aspecto jovial, serviu como álibi para um partido composto por um fechadíssimo clube do bolinha.

    Durante a campanha, ela provocou a ira de eleitores nas redes sociais, quando afirmou que "as mulheres alemães deveriam ter mais filhos" e que o país, com baixa taxa da natalidade, "não deveria ser dependente dos imigrantes e refugiados".

    Acabou sendo comparada a Hitler. Como se esse perrengue não bastasse, vazou na imprensa que membros da AfD já foram do Die Republikaner, partido de extrema-direta cujo principal era lema "Fora, estrangeiros!".

    Além da ira na internet e de reportagens na mídia alemã sobre "o potencial de extrema-direita" da legenda, hackers publicaram na rede dados de membros do partido logo após da vitória do dia 31.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024