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    Funcionários do Itamaraty apontam falta até de sabão no ministério

    RODRIGO VIZEU
    FLÁVIA MARREIRO
    DE SÃO PAULO
    NATUZA NERY
    DE BRASÍLIA

    28/09/2014 02h00

    Diplomatas afirmam que o aperto orçamentário tem sido tão severo que o Ministério das Relações Exteriores não tem recursos para enviar representantes a alguns compromissos internacionais.

    Diante da impossibilidade de comparecer a reuniões no exterior, diplomatas em Brasília têm sido orientados a pedir que colegas nas embaixadas e consulados os representem nos encontros. Em alguns casos, mesmo quem está no exterior não viaja por falta de passagens e diárias.

    Outros ministérios -e até ONGs- têm se oferecido para custear as passagens de funcionários, afirmam.

    De acordo com relatos feitos sob a condição de anonimato, são cada vez mais comuns vetos a pedidos que chegam do exterior de patrocínios culturais, reparos, renovações de mobiliário e eletrodomésticos, por exemplo, sob argumento de "severas restrições orçamentárias".

    Segundo a análise de um diplomata, a situação coloca em questão a própria utilidade da existência de embaixadas sem recurso, exceto para se pagar. Além de ampliar o quadro profissional, o governo Lula ampliou o número de representações no exterior.

    Mesmo no custeio há relatos de que faltam produtos que vão de material de escritório a sabão em embaixadas, consulados e em Brasília.

    Elevadores são desativados e há recomendação de se desligar o ar-condicionado "sempre que possível". Falta verba até para trocar placas de identificação nas portas.

    Em 2013, o pagamento do auxílio-moradia dos servidores que trabalham no exterior chegou a atrasar, segundo informativo oficial entregue a diplomatas lotados no exterior. Há temor de novos atrasos no fim deste ano. O Itamaraty nega a existência de atrasos.

    SINDICATO
    Segundo a Folha apurou, não se descarta uma greve, embora a medida seja considerada drástica pela ala mais moderada do grupo.

    Diante das insatisfações, os diplomatas estudam aderir ao sindicato da categoria, o Sinditamaraty, entidade que reúne tradicionalmente os demais servidores do ministério e conta com poucos diplomatas entre os filiados.

    O presidente do sindicato, Alexey van der Broocke, que é assistente de chancelaria, criticou o que chamou de "economias burras" no ministério. "Isso tira o nosso pique, você se sente maltratado. Como posso dar atenção ao cidadão brasileiro lá fora sem condições?"

    O sindicalista responsabiliza a presidência da República pelos cortes. "É um contingenciamento muito forte. Se for mantido esse nível, o Itamaraty vai entrar em colapso. Será que vamos conseguir pagar luz, combustível?", afirmou.

    Ele prometeu "abraçar a causa" dos diplomatas iniciantes se eles o procurarem e chamou de "crueldade" a falta de resposta do gabinete do chanceler às reclamações de demora de ascensão na estrutura da carreira. "É um pouco o modus operandi dessa administração. Ele podia ao menos dizer que esse não é o momento ideal."

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