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    'Elefante Branco' em Buenos Aires começa a ser desocupado

    FELIPE GUTIERREZ
    DE BUENOS AIRES

    29/09/2014 02h00

    Em meio a uma polêmica judicial com a prefeitura, moradores começaram a sair do prédio ocupado mais famoso de Buenos Aires.

    Desde junho, dez famílias fizeram um acordo para abandonar o "Elefante Branco". As outras 75 que ainda moram lá não aceitaram os termos. A prefeitura oferece 80 mil pesos (cerca de R$ 23 mil) para quem escolhe sair.

    O "Elefante Branco" começou a ser construído em 1937 para ser o maior hospital da América Latina, mas as obras pararam 18 anos depois e nunca foram retomadas.

    O prédio já era famoso, mas em 2012 ficou mais conhecido depois que foi cenário do filme "Elefante Branco", com Ricardo Darín, que narra a história de dois padres que atuam na área.

    As torres principais têm 12 andares, e o prédio inteiro tem 60 mil metros quadrados, mais de cinco vezes o tamanho do Masp.

    Atrás da estrutura abandonada, surgiu uma favela chamada Villa 15, mais tarde apelidada de Cidade Oculta. Quem passa pela avenida não a enxerga justamente por causa do "Elefante".

    Há 30 anos, o prédio começou a ser ocupado por pessoas que não tinham onde morar. O primeiro a se fixar foi o vigia do local. Poucos andares são ocupados e recentemente o acesso aos pisos mais altos foi fechado.

    Monica Baranava, 27, saiu de Gregorio de Laferrere, no Estado de Buenos Aires, para morar na capital do país há sete anos. Ela chegou com o marido e a filha mais velha, que tinha um ano. Hoje a família tem quatro filhos, e seis pessoas dividem um cômodo no "Elefante Branco".

    Quando chegou, pagou mil pesos para poder ficar com o lugar. Além de mosquitos, Baranava também reclama de ratos. "Mas é cômodo e tem o refeitório, que é gratuito."

    A responsável pelo refeitório é Graciela Leiva, 50, moradora do "Elefante" há 14 anos –antes, morava na Cidade Oculta. Ela relata que só foi para o prédio depois que a estrutura passou a contar com eletricidade e água.

    Os moradores foram se organizando até que conseguiram fechar com a prefeitura um acordo no qual obtiveram uma creche e um refeitório.

    "Quando dizemos que somos do Elefante Branco', muitas pessoas ficam com medo. E é mais difícil conseguir emprego", diz.

    JUSTIÇA

    Apesar da oferta de dinheiro para quem sair, não há um plano do que fazer caso os moradores não aceitem e nem uma ideia de destino do edifício.

    O defensor público Horácio Corti critica a medida, pois considera que não se trata de uma solução plena para o problema e que "com o dinheiro que o governo dá não se compra nem um barraco em uma favela".

    No ano passado, após reveses anteriores na Justiça, Corti conseguiu que a prefeitura limpasse um lixão que existia dentro do prédio, além de fazer melhorias sanitárias.

    "Deveria haver programa de habitação popular para quem não consegue ter casa pela situação macroeconômica do país", afirma Corti.

    O "Elefante Branco " pertence à Secretaria de Desenvolvimento Social da prefeitura. A pasta foi procurada pela reportagem, mas não respondeu.

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