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    Agentes de inteligência contradizem Obama sobre Estado Islâmico

    GIULIANA VALLONE
    DE NOVA YORK

    01/10/2014 02h00

    A ameaça da milícia radical Estado Islâmico (EI) não foi tão surpreendente para a inteligência norte-americana como afirmou o presidente Barack Obama em entrevista no último domingo (28).

    Fontes militares e de inteligência ouvidas pelo jornal "The New York Times" dizem que documentos e relatórios confidenciais da inteligência mostravam o perigo oferecido pelos extremistas desde o final do ano passado.

    Em entrevista no domingo, Obama disse que o chefe da inteligência, James Clapper Jr., admitiu ter subestimado o perigo imposto pelo EI e superestimado a capacidade do Exército iraquiano de lidar com estas ameaças.

    A afirmação de Obama, acusado pela oposição republicana de estar se eximindo da culpa, também incomodou agentes da inteligência.

    "Alguns de nós estavam empurrando os relatórios para eles, mas a Casa Branca simplesmente não deu atenção a isso", disse um agente, em condição de anonimato, ao "NYT". "Eles estavam preocupados com outras crises. Essa simplesmente não era uma grande prioridade."

    Segundo a publicação, uma reconstrução do último ano sugere um grande número de momentos importantes em que tanto a Casa Branca quanto a inteligência americana julgaram mal o EI.

    Mesmo após o grupo tomar a cidade de Falluja e parte de Ramadi, no Iraque, a Casa Branca ainda acreditava que ele que poderia ser contido.

    O então premiê iraquiano Nuri al-Maliki pediu ajuda aos EUA para que fornecessem armamento, mas a Casa Branca e o Congresso reagiram negativamente. Para o governo Obama, o Iraque deveria combater os insurgentes sunitas com seu próprio exército e ainda criar um governo mais inclusivo que reduzisse o apoio ao EI.

    "Eu duvido muito que a comunidade de inteligência estivesse dormindo enquanto o EI estava ganhando força na Síria", afirmou Frederic Hof, ex-conselheiro especial do Departamento de Estado, ao "Telegraph". "Nada disso estava exatamente escondido."

    "Havia muitos de nós dizendo que esse era um problema real", disse outro agente.

    Em fevereiro, em seu discurso anual no Congresso, o diretor de Inteligência Militar, Michael Flynn, afirmou que o EI provavelmente tentaria ganhar território na Síria e no Iraque em 2014.

    Para Obama, a volta militar ao Oriente Médio significa um importante passo para trás. A retirada das tropas americanas do Iraque era uma das grandes promessas de sua campanha em 2008.

    Depois de cinco anos na Casa Branca, o presidente, segundo assessores, estava convencido de que os Estados Unidos tomavam muito rapidamente decisões sobre recorrer ao uso da força militar em confrontos externos.

    "A política exterior dos EUA nos últimos 13 anos no Oriente Médio foi um desastre. Criou guerras no Afeganistão e no Iraque, com consequências no Paquistão, trilhões de dólares foram gastos, milhares de pessoas morreram", disse John Mueller, do Instituto Cato, à Folha.

    Para ele, Obama ignorou relatórios sobre o EI. "Os americanos estão assumidamente cansados de estar nessas guerras. Ele simplesmente disse: 'Bom, não tem nada mais que possamos fazer para ajudar.'", disse.
    "Para mim, ele ainda diz: 'Vamos ajudar e se vocês não se organizarem, não faremos mais'. E acho isso bastante aceitável", afirmou.

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