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    Brasileira culpa amigos por filho ter aderido a grupo extremista

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    02/10/2014 02h00

    Retirada à força de um tribunal belga nesta semana, a brasileira Ozana Rodrigues, 43, irá confrontar mais uma vez o islamita Fouad Belkacem no próximo dia 8 para pedir-lhe que devolva o filho, recrutado por ele para lutar com extremistas na Síria.

    Rodrigues é mãe do belga Brian de Mulder, 21, que em janeiro de 2013 desapareceu de casa para reaparecer na Síria com um novo nome, Abu Qassem Brazili –"o brasileiro", como é hoje conhecido no Estado Islâmico (EI).

    A brasileira gritou a Belkacem, no julgamento, que o terrorista havia arruinado a vida da família. "Se não tivessem me segurado, tinha sentado a mão na cara dele", ela afirma à Folha, durante uma entrevista por telefone.

    Na semana que vem, Rodrigues planeja apelar para "seu coração, se é que ele tem um". "Vou pedir que devolva o meu Brian", afirma.

    A brasileira não esconde o desprezo por aqueles que ela culpa pela decisão de seu filho de viajar para a Síria. "Essas pessoas são da pior raça. Eles não estudam, não trabalham, só sabem estragar a vida das pessoas", diz.

    A história da adesão de Mulder ao jihad, segundo conta a mãe, começou com a sua saída do time local de futebol. "Eles queriam garotos mais velhos. Ele tinha 17 anos e ficou muito chateado, porque essa era a vida dele."

    Mulder passou, em seguida, a jogar basquete em uma praça próxima de sua casa.

    Em pouco tempo o garoto conheceu, na quadra, muçulmanos marroquinos que o levaram à mesquita e a Belkacem. O que fez Mulder transformar-se, a mãe não sabe, mas ele passou a vestir-se com roupas longas, a pedir que ela não ouvisse rádio e a censurar seus shorts.

    Internada em 2010 diante da ansiedade e com "um pressentimento" de que estava prestes a perder o filho, Rodrigues saiu da Antuérpia para o interior da Bélgica.

    Quase dois anos depois, ela ainda não entende o processo que o levou ao EI. "Ele é um garoto excelente. Lindo, fino, tudo de bom. Não tenho nada de ruim para falar sobre ele", diz. "É muito triste ver um filho que criei com amor sendo julgado por uma coisa que não é do feitio dele."

    Mulder é julgado no mesmo "megaprocesso do jihad" em que Belkacem é acusado por liderar o grupo Sharia à Bélgica. O filho de Rodrigues responde por participar da organização terrorista e pela ameaça de ataques contra o país, o ministro da Defesa e um líder político local.

    "Quero ele de volta. Mesmo que seja morto, para poder enterrar. Não quero Brian lá com essa cambada", diz.

    Rodrigues nasceu em Silva Jardim, no Rio, "um buraco". "Não tive boa infância ou boa educação", diz. Aos 19 anos, a brasileira conheceu um belga em um "café dançante" no Catete. Ele a convidou para ir à Bélgica. Ela viajou e, em breve, conheceu o pai de Mulder, com quem não seguiu uma relação.

    Foi ao pai que o garoto pediu dinheiro, há seis meses, no último contato que a família teve com ele. "Ele disse que queria comprar picolé para dar para as crianças", diz Rodrigues. "Como não demos dinheiro, ele disse que nós éramos infiéis e nunca mais nos telefonou."

    Decapitados
    Nesta quarta (1º), a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos informou que sete homens e três mulheres foram decapitados por radicais do EI em uma região curda no norte da Síria.

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