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    No Uruguai, direita explora tema da violência às vésperas da eleição

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU

    24/10/2014 02h00

    "A questão da violência no Uruguai não é tão grave com relação a outros países da América Latina, mas não precisamos esperar ficar muito grave para tomar providências, não é?".

    Com um tom de voz extremamente calmo, o candidato do Partido Colorado (centro-direita) à Presidência do Uruguai, Pedro Bordaberry, 54, explica à Folha, na sede de sua campanha, num bairro nobre de Montevidéu, por que tomou a iniciativa de promover um referendo para decidir se a maioridade penal deve cair de 18 para 16 anos.

    A votação ocorre domingo (26), junto do primeiro turno da eleição presidencial.

    "A população está assustada com o crescimento dos roubos à mão armada e com os assassinatos cometidos por menores de idade, que estão aumentando também. É preciso fazer algo", diz o candidato, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto na eleição presidencial, com 15%.

    Apesar de ter poucas chances de seguir para o segundo turno, que ocorre no dia 30 de novembro, Bordaberry tem sido um dos mais ativos neste final de campanha.

    Seu provável apoio ao candidato do Partido Blanco (conservador), Luis Lacalle Pou (32% das intenções de voto), pode definir a derrota da Frente Ampla.

    A coalizão esquerdista, do atual presidente José "Pepe" Mujica, tem como candidato o ex-presidente Tabaré Vázquez (2005-10), favorito nas pesquisas, com 42%.

    Bordaberry reconhece como êxitos dos dez anos no poder da Frente Ampla a diminuição da desigualdade e a redução da pobreza (de 40% para 11%), porém faz críticas com relação à política econômica e às leis de direitos civis aprovadas nos últimos anos.

    "Está claro que o país não se preparou para a queda do preço das commodities e a desaceleração da China, somos ainda muito dependentes da agricultura, do turismo, e é preciso investir em indústria e em infraestrutura."

    Para o candidato, o Uruguai deve proteger-se da desaceleração de seus dois principais sócios, Brasil e Argentina, e reposicionar-se na economia internacional.

    "Temos de ter outros parceiros, fazer tratado de livre-comércio com os EUA, aproximar-nos da Aliança do Pacífico [Chile, México, Peru e Colômbia] e ajudar a reformular o Mercosul, que vai mal devido a medidas protecionistas e à política interna."

    Bordaberry nega que seu partido tenha migrado, ao longo da sua história, da esquerda para a direita.

    "Não vejo assim. Sempre defendemos, desde o princípio, valores republicanos, as instituições, e fizemos a crítica desses dez anos de governo de esquerda, assim nos posicionamos."

    Colorados e blancos monopolizaram a política uruguaia desde o século 19, até a chegada da Frente Ampla ao poder, em 2005.

    O pai de Bordaberry, Juan María Bordaberry (1928-2012), foi ditador do país entre 1973 e 1976, sendo condenado por crimes de lesa-humanidade em 2006.

    MACONHA

    O Partido Colorado defende a reformulação da Lei da Maconha, aprovada pelo Congresso no ano passado.

    "O ponto problemático é a ideia de o Estado vender a droga para a população nas farmácias. Vamos vender também uísque? Heroína? Temos evidências de que o consumo não baixa com a liberação, então não há vantagem."

    Com relação ao aborto, também aprovado durante a gestão de Mujica, Bordaberry disse que é contra, mas que não pedirá a revogação da lei.

    "É possível atuar de outra maneira, evitando os abortos. Com campanhas de esclarecimento, atendimento psicológico às mães e melhorando as regras das adoções."

    Bordaberry ainda não anunciou apoio oficial a Lacalle Pou, mas afirmou que ambos conversarão no domingo, depois de conhecidos os resultados.

    "Há muitas afinidades, mas quem disse que não tenho chance? Há muita gente que vota no Partido Colorado, mas tem vergonha de dizer. No Brasil, as pesquisas do primeiro turno se equivocaram. Não descarto que seja eu quem vá disputar o segundo turno com Vázquez."

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